Pedro Ando
A fome d’alma humana é um rei que se assenta à mesa verde-escura, e come dos manjares em pratos de vacância. (Ele projeta a sua imagem em toda a estrutura.) A glória fugidia de sua fugaz herança clareia toda a sala. Portas abertas. Vem a cruviana esvaziando-a de sua auréola, e enchendo-a repetidamente da mesma fome. Sua face dourada se perde em cores parcas voando para longe. E, sem nenhum desnome, se deita sozinho nos cacos da bonança tendo no peito uma única gravura: “Tudo vem, tudo vai, nada pra sempre dura, A não ser aquilo que do céu vem – a própria fome”.