Revista de Cultura

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Poemas de Morada em edição

Priscilla Pinheiro

Terra e água

a memória é uma ilha de edição
Wally Salomão falou
o que a gente lembra e vive
em constante deslocamento

a casa feito ilha
de histórias e vivências
percorre um caminho entrelaçado
por gostos, pensamentos e mergulhos

em terra firme
a morada se constrói
a partir de fragmentos
e apesar das rachaduras

O canto da coruja

me leva ao quarto
onde minha avó ficava
da cor salmão
seu look preferido

me leva ao cheiro de plantas
aos tecidos macios
aos novelos de crochê

ao sorriso contido e
ao riso que balança a barriga
aos olhos que se fecham e
adormecem

a música de madrugada
quase fantasmagórica
traz a sua ausência
sempre presente

o cantarolar noturno
protege o território
das suas lembranças
no meu coração

Estrutura

entre uma linha e outra
há algo que se esconde do que resta
uma luz que ressurge das brechas da persiana
para desenhar outras linhas

os gestos entre as palavras
perpassam o corpo das imagens
do que não pode ser visto
e do que ainda será imaginado

a ruína das sílabas-cascas
que vão se deteriorando
a cada tentativa de leitura
do que poderia ser escrito

as folhas que sobrevivem aos ventos
são como aquela casa que se mantém
onde habitam os sonhos que não desistem
em meio à melodia soprada dentre os vãos

o tempo das raízes que inscrevem a vida
em paredes envelhecidas
feito renda cheia de veias
transparecem o respiro invisível de gerações

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