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Desvelando méritos ocultos

Academia Brasileira de Letras

Luiz Eduardo de Carvalho

O terceiro romance de Maurício Melo Júnior, intitulado Sujeito oculto, é um primor iconoclástico da literatura brasileira, marcadamente no tocante aos controversos critérios e métodos de indicação e eleição para as academias literárias, sobretudo a Academia Brasileira de Letras que, entre seus imortais, apresenta extensa lista de duvidosos talentos.

Autor pernambucano radicado em Brasília, Maurício Melo Júnior é jornalista especializado em literatura e, nesse recorte, mais especificamente, transita com familiaridade entre Histórias de acadêmicos, que é, aliás, título de um dos documentários que dirigiu na TV Senado, na qual apresenta, há mais de duas décadas, o programa Leituras. Entre crônicas, novelas, ensaios, infantojuvenis e infantis, já havia publicado os romances Noites simultâneas em 2017 e Não me empurre para os perdidos em 2020. É também curador de diversas festas e feiras literárias. Ou seja, um homem do metier.

Na trama de Sujeito oculto, recheada de autoficção, o jornalista investigativo Juarez Castro parte no encalço de Alberto Castelli, laureado escritor que teria ocupado a cadeira 21 na Academia Brasileira de Letras, vacante depois da ficcional morte de Paulo Coelho. A intenção é desvendar os motivos de seu paradeiro desconhecido e escrever uma matéria jornalística que recoloque o personagem Juarez na pauta visível aos leitores, editores e, sobretudo, veículos de imprensa nos quais ele tem estado eclipsado num momento de declínio profissional.

Não bastasse o excelente mote para o enredo, Maurício Melo Júnior prima pela construção da narrativa numa arquitetura muito bem engendrada que mantém o leitor cativo desde as primeiras linhas até o deslinde do mistério. A perseguida matéria, dado o volume das descobertas acumuladas, desdobra-se em nova intenção: redigir uma biografia de Castelli, o que demanda do jornalista deslocamentos temporais e geográficos em busca de informação.

Arrogado de investigador, Juarez parte da cidade natal de Castelli, no oeste baiano, lugar onde o filho de família abastada deixou rastros de inconsistência em relação a seu fulgor intelectual desde os bancos escolares até o vestibular, a partir do qual ingressou num curso de medicina concluído de forma temerária e fraudulenta. Passa pelo Rio de Janeiro e vai parar em terras uruguaias com o fito de concluir sua surpreendente descoberta.

O fio condutor da trama é o discurso de posse de Alberto Castelli na Academia Brasileira de Letras, apresentado em fragmentos à medida que avançam os capítulos nominados pelos ocupantes anteriores da cadeira 21, todos citados por Castelli em ordem cronológica. Entremeiam-se, nessa segmentada linha temporal, fragmentos de crônicas à guisa de comentários ou pertinentes chistes a respeito de fatos correlatos aos citados no discurso do novo acadêmico, o que compõe um interessantíssimo mosaico de “fofocas” de bastidores literários! Assim, misturando fragmentos do discurso de posse, de crônica e de ensaio literário, além do próprio arcabouço romanesco, Sujeito oculto é obra de gênero híbrido muito bem resolvida em engenho pela verve capacitada de um autor que transita com êxito por todas as modalidades discursivas.

A caprichada edição da editora Patuá, com belíssima capa e projeto gráfico de Isabela Sancho, contribui para transformar a obra em leitura obrigatória para os que são do ofício e garantia de excelente entretenimento e bastante informação para quaisquer leitores sem pretensões literárias!

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