Revista de Cultura

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Isso não é um enterro, é uma ressurreição

Caspar David Friedrich, "Dois homens contemplando a lua" (1819-20)
Galerie Neue Meister, Dresden

Maurício Rosa

o homem que encosta a cabeça no meu ombro e dorme
tem calos, torções e cicatrizes na palma da mão

por acaso adivinhei seu sonho: era com cardumes
e a fome inaugural que ele sonhava

pude ouvir o sopro de sua respiração laboriosa 
de planos abatidos no ar 
pude ouvir seu coração de marcha forçada
disparando como uma flecha em direção ao deserto

acreditei que aquele homem fora submetido 
a inalcançáveis maneiras de fadiga
e que no ombro de qualquer um ele pediria repouso
depois de vencer distâncias no próprio lombo

quando enfim também me deixo sossegar 
e o sono do homem parece profundo e apaziguado
descubro que o amo 
e hoje
           por todas as razões possíveis
lhe peço perdão

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