Jocê Rodrigues
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Uma cidade não é feita só de lugares e marcos físicos. Ela é feita de gente e de momentos. Principalmente de gente e de momentos. Para haver habitação, é preciso antes haver habitantes.
O que faz uma cidade pulsar, o que bombeia o sangue pelas veias de ruas, estradas, vielas e faz circular oxigênio pelo seu corpo arquitetônico são os rostos, dores e alegrias de quem vive nela e as lembranças criadas por essas mesmas pessoas.
Sem elas, uma cidade seria somente um amontoado de pedras a perturbar o canto dos passarinhos sem nada oferecer em troca. Nas cidades pequenas, essa troca simbólica entre ambiente, fauna e flora acontece sem o barulho e o ritmo caótico da cidade grande.
A goiabeira ergue-se nos quintais com facilidade, enquanto as crianças escalam seu tronco em busca de aventura e de alimento entre uma brincadeira e outra. Os riachos oferecem frescor nos dias quentes de verão aos andarilhos. Em contrapartida, recebem cuidado e tornam-se o centro de causos fantásticos ou viram palco de memórias que serão contadas aos filhos e aos netos de quem escalou e de quem se refrescou.
Uma balança equilibrada, com pesos que se ajustam de acordo com as necessidades de cada parte. Tudo sem necessidade de decretos, multas e vigilância pesada; apenas as palavras de quem veio antes e que aprendeu a falar a mesma língua dos bichos, das plantas e das pedras.
Itagibá não era feita de tijolos, mas de afetos. De mãos que constroem, de vozes e da soma dessas vidas que dava ao pequeno município sua forma verdadeira – uma forma que não cabe em mapas. Seu verdadeiro charme estava no padeiro que conhecia cada freguês pelo nome, na costureira que guardava mais segredos que linhas, no agricultor que conversava com a terra antes de plantar.
Não era apenas a localização geográfica e o clima que me faziam amar aquele pedaço de terra, com sua feira, paróquia, ponte e rio. Era também quem o pisava, quem andava para lá e para cá meio aluado, quem acenava da janela, quem ficava da porta para dentro regendo sua vida particular.
Gente que se juntava em noite estrelada e que falava sobre como era bonito ver a chuva cair do céu, como se fosse a mais alta filosofia, mas sem jargões técnicos que travam a língua e o cérebro. Gente que nunca leu Fernando Pessoa, mas que era inteira pessoa de poesia.
É delas e desses eventos que precisamos falar antes de prosseguir em direção ao outro lado do Atlântico.
Branca
Branca dançava nos bares, todos eles. Não havia dono de bodega ou bordel que não a conhecesse. Era quase sempre dois pra lá e dois pra cá. Homem solteiro ou casado, velho ou ainda em pelugem.
Dançava, flertava e bebia. “Rampeira”, diziam as casadas. “Cachaceira”, falavam as solteiras. “Doida varrida”, cochichavam as viúvas carpideiras.
Figura miúda, se enfeitava e maquiava em excesso – daí vem seu apelido: Branca. Vestida feito cigana, bebia e dançava. O vestido quase roto, de alça caída dos ombros, era um convite quase ingênuo à intimidade da sua solidão.
Dos cabelos cuidava pouco. Preferia-os soltos, como matagal rebelde e teimoso que cresce à beira do cercado, insubordinado às mãos de qualquer um que o queira tirar de lá pela força.
Quase sempre descalça, perfumava-se de alfazema e ia festejar a vida rodando de mesa em mesa, como um dervixe sertanejo. Achava que era feliz, a criatura, com a flor enorme que trazia na cabeça.
Mas uma felicidade imitada, morna, que durava o tempo de uma dança e logo desaparecia no ar.
Dário Doido
Ruivo e alto, de cabelos cor de fogo, Dário acelera pelas ruas de paralelepípedo da cidade, sempre segurando as calças puídas acima do umbigo.
Sem camisa, costelas à mostra, não sabe dizer corretamente a palavra paralelepípedo. Ou qualquer outra palavra dita por língua humana. É que o cérebro febril desde tenra idade desconhece certas partes do reino da linguagem, ao mesmo tempo em que o fez profundo conhecedor das coisas miúdas que aconteciam dentro de si mesmo.
Dentro do outro, não. Apenas e sempre dentro dele mesmo, sem nunca estar apto para descrever o que vê, ouve e sente ali.
Como tantos outros lunáticos, Dário é um exilado sem decreto. Sem qualquer mandato obrigatório, percorre toda a extensão da cidade em menos de duas horas e nunca está em casa.
Não é só vadiar, como pensa muita gente de imaginação limitada. Quer dizer, é também vadiar, mas um vadiar iluminado. Não com a luz fria e elétrica da razão. Mas com o bruxulear de uma vela posta no oratório no canto de uma sala escura na Hora do Angelus.
Estar louco é estar longe. Exatamente do quê, não se sabe. Dário nunca usa nada nos pés. Nunca.
Percorre a cidade de cima a baixo assim: de pés no chão e cabeça no ar.
Domingos
Quando era mais novo, Domingos incitava medo. Negro retinto, alto e corpulento, nos dias de colapso mental cruzava ruas e avenidas como se delas fosse dono total e irremediável.
Nunca fez mal a ninguém. Talvez a um cachorro de rua ou gato vadio. Em gente mesmo nunca tocou.
Hoje, perto dos 80 anos, quase toda a massa muscular se foi. Sobrou uma bengala de madeira velha, retirada de uma nogueira derrubada no quintal de seu Nonô, que ajuda na locomoção.
Fugiram todos os dentes da boca, perdidos sabe-se por qual paragem. Manso, ele agora pede café pelas janelas e dorme nas calçadas, mesmo tendo casa própria.
Domingos amava as ruas. Nelas estavam sua sala, quarto, cozinha e, às vezes, o banheiro. Amava a cidade que o tratava com desprezo, mais que qualquer um. Mesmo sem saber soletrar a palavra amor.
A noite
Todo mundo deveria ter a oportunidade de ver os rastros da Via Láctea no céu ao vivo e em cores pelo menos uma vez na vida. O privilégio de poder voltar os olhos para cima e enxergar a trilha leitosa entre bilhões de estrelas está cada vez mais restrito, mais difícil.
São as luzes elétricas que atrapalham, dizem. Mais prédios, mais casas, mais postes… essa vontade tola de substituir vagalumes. As sombras cada vez mais esquecidas, desperdiçadas, enquanto o firmamento vai se apagando lentamente.
Em cidade pequena, pouca luz basta. Vela, candeeiro, lanterna improvisada ou uma lâmpada amarela que mal iluminava um cômodo – tão fraca e tão bonita.
Nos quintais à noite, só botava dedo em interruptor quem quisesse prosear com os amigos ou visitas. Se fosse coisa íntima mesmo, entre família ou sozinho, a lua dava conta com um cortejo de estrelas a granel.
Não precisava ter conversa, rasa ou profunda. Só sentar no chão, cadeira ou esteira de palha, e deixar os olhos mirando o alto.
Dona Zé
Detrás de um pequeno balcão, ela via a vida passar lá fora. Herdou a pequena venda do marido. A porta sempre aberta, mesmo em dia de chuva. Por lá passava gente de todo canto, mesmo os que moravam em outros bairros. Não sei se era pelo pão, pela farinha ou pelo riso sorriso aconchegante.
As crianças buscam encomendas. Os adultos jogam conversa fora. “Como vai a vida?”, “melhorou da artrite?”, “acho que hoje chove”.
Tinha uma filha professora, que dava aulas de matemática no Colégio Municipal. Os alunos compravam doces lá. Às vezes cochicham entre si sobre o cheiro da venda. Uma mistura de embutidos e solidão guardada na gaveta de onde se tirava o troco. Dona Zé não ligava.
São só crianças, dizia para a vizinha, minha tia. “Ainda não entendem de umidade e de tempo, mas já sabem de troco e matemática graças à minha caçula”, justificava orgulhosa.
Um dia, sentada em uma cadeira na calçada, disse para a minha avó, que também era sua vizinha: “quando eu morrer, quando Deus me levar do mundo dos vivos, esta venda vai fechar. Você vai ver. Alguém vai transformá-la numa casa e só os pequenos vão lembrar de mim, talvez com o carinho de quem perdeu uma cúmplice que às vezes mandava eles para casa com um ou dois pães a mais”.
Eu não sou mais pequeno, mas a lembrança perdura. A lembrança do cheiro forte, do bigode quase masculino e da ternura de quem entendia o valor cristão de multiplicar o pão de quem pouco tinha.
Noite de São João
Em noite de São João, em frente de cada casa, grande ou pequena, uma chama acesa depois de dias de expectativa.
Bandeirolas coloridas obstruíam a visão do céu. Um pecado perdoável, já que o homenageado é santo como o próprio dia. As pessoas se reuniam em volta do fogo, como faziam nossos ancestrais, e contavam histórias. Celebravam conquistas e choravam perdas.
Na mesa, pratos variados e o milho assado na fogueira, com crosta e tudo.
Os rojões gritavam, explodiam com brilho artificial em desprezo pela sensibilidade alheia, humana ou animal. Todos os bairros se afinavam em festa. E a luz acesa da madeira em combustão iluminava e hipnotizava. Clareava um pouco a calma escuridão de um mundo pequeno ao som do triângulo e do acordeão.
À beira das brasas vivas, licores diversos: de jenipapo, de cacau, jaboticaba, tamarindo e maracujá. Como acompanhamento, a folia dos pequenos e o estalo da madeira subindo cinza acesa aos céus.
Não havia solidão, como no poema triste de Fernando Pessoa. Havia baques de saltos, ruídos de gargalhadas e gritos casuais, mas também havia São João em mim, dentro e fora dos muros do meu quintal. E as fogueiras que ardiam na noite aqueciam minha alma.
É que a poesia tinge cada alma com cores e matizes diferentes. Eu não sou Fernando Pessoa. Nunca poderia ser. A minha melancolia tinha como causa as fogueiras que se apagavam, não aquelas que ardiam e que perfumavam os ares de festa.
Lôro
Motorista de ambulância, Lôro ganhava a vida evitando que os outros perdessem as suas. E dele, nada mais precisaria ser dito.
Joel
Joelzinho, era chamado assim, construiu um bar à beira do Rio do Peixe, ao lado da ponte nova. O homem é um monumento da vontade, é preciso dizer.
Para construir casa e estabelecimento comercial, usou só madeira e pregos. Muitos pregos. Fez tudo sozinho. Cortou, nivelou, cerrou, pregou e, ao cabo de alguns meses, levantou comércio e residência.
Dormia lá mesmo, ouvindo o sussurro da água passando logo abaixo da janela, noite após noite. No começo a freguesia era pequena, ao contrário da vontade de tocar em frente vida e comércio. Aos poucos, conseguiu ter clientes para chamar de seus.
Normalmente diletantes oriundos de bares que fechavam ou que subiam o preço da pinga. “Eu só agradecia a Deus. Cada vez que alguém entrava e sentava no balcão, eu agradecia baixinho”. Tão baixo quanto o preço da cerveja e da caninha.
Alguns anos depois, fez seu império de madeira crescer. O pequeno barraco ganhou contornos de mansão, que agora abriga a família inteira (mulher e um casal de filhos) e o pequeno bar virou parada obrigatória de quem vai à feira ou para quem só quer beber e papear ouvindo o murmurar das águas vizinhas.
Orgulhoso como poucos, João diz que seu sonho não se concretizou. Concreto não, ele foi mesmo é talhado na madeira, ao lado daquela ponte, na beira daquele rio.
Jacira
No brega de Jacira era assim: não tinha dia certo para abrir. Às vezes era na quarta, emendava na quinta e sexta e, às vezes, nem abria. Mas todo final de semana era sagrado. Descanso, né?
Vinha homem de toda a região. A maioria tinha família e filhos. Queriam o descanso deles também. Os dedos das duas mãos eram suficientes para contar o número das integrantes do seu cortejo: Jurema, Amélia, Carminha e mais umas três ou quatro moças, novas de profissão que vinham lá das bandas de Ubatã.
Sobre o nome? Ela não ligava. “É brega mesmo, o nome”, dizia. “Cabaré é coisa de gente fresca. É minha casa também. Um quarto é meu, ninguém encosta”. Os outros dois aposentos as meninas dividiam entre si. “Quando uma tem cliente, a outra espera, se agarra com o rapaz ali no sofá, mas sem muita safadeza. Ainda é casa de família”, fazia questão de lembrar.
Jacira já foi da profissão. Mas era bem mais nova e inexperiente. “Só sabia carinhar, sem muito querequetê”, relembra com desembaraço. Depois, abriu o próprio brega e só cuidou de gerenciar. Mas tinha um namorico aqui e outro acolá. Dotada de um senso só seu, sempre fez questão de não misturar as coisas.
“Negócio, não. Só prazer”.
Dia de chuva
A cidade tinha outra alma durante a chuva. Ao longe, o trovão anunciava a hora de correr até o varal antes do primeiro caroço de chuva se plantar no tecido das roupas que quaravam tranquilas ao sabor do sol das lavadeiras.
Depois de fechadas, janelas viravam percussão do céu. Gota a gota, o toró fazia sinfonia fina. Espetáculo que não carecia de pagamento ou ingresso.
De dentro de casa, fosse de quarto, sala ou cozinha, dava para ouvir o murmurar de chuvisco ou tempestade. Do lado de fora, na rua, as pequenas corredeiras lavavam os pés das crianças. Era engraçado ouvir o gorgolejar desses pequenos rios improvisados, uns mais largos e fundos que outros.
As nuvens de tons grisalhos, o vento ameno abatendo o mormaço insistente e o petricor (nome bonito mas desnecessário para o cheiro da terra molhada pela chuva) enchendo os pulmões de esperança pela calmaria após a tempestade.
Não era sobre lavar a alma. Era sobre se deixar molhar porque sim. É uma tolice essa necessidade de achar função ou vantagem escondida em tudo. Ninguém agradecia por ter tido a alma lavada ou a cisterna cheia. Essas coisas eram consequências naturais de algo bem maior. Sem nomes em latim ou termos científicos.
O que se agradecia era a beleza, pura e simples, de um dia de chuva.
Valmira
Já com idade avançada e sem o respeito de décadas passadas, depois de dominar as noites itagibenses, Valmira abriu uma pequena venda na própria casa.
Agora de pele enrugada e cheiro exótico, antes era pioneira. Diz-se que, na época em que era dona de brega, as bostas dos cavalos que paravam à porta davam pista da fartura. Moças perfumadas de alfazema e dama da noite ao encontro de homens embriagados de desejo e álcool.
Depois de anos à frente de um negócio de sucesso, Valmira viu seu reinado tombar sob o peso da expansão dos negócios de seus próprios clientes. O plantio de cacau cresceu e muitos coronéis e empresários foram buscar novas aventuras em terras mais distantes.
A vendinha ficava na frente do cabaré de Jacira. Uma das antigas concorrentes que conseguiu prosperar em meio às dificuldades. Humilde que só ela, o novo estabelecimento de Valmira não atrai mais atenção do que um poste.
O movimento é pouco, devagar quase parando. O futuro não foi como esperado. Mas ela não se queixava. Pelo menos não em público. De pouca conversa, quase ninguém sabe dizer o que se passava naquela cabeça, quase sempre coberta com um lenço de seda.
Dos parentes, ninguém tinha informação. Isolada atrás de um balcão e envolta num silêncio quase enlutado, Valmira parecia não sonhar mais com o amanhã. Mais urgente era saber o que iria acontecer naquela noite, na novela das nove.
O vendedor de quebra-queixo
Em todo fim de tarde, lá vinha ele. Religiosamente. Com uma mala de madeira equilibrada na cabeça e um tripé a tiracolo.
Com um triângulo nas mãos, gritava e tocava: “olha o quebra-queixo!” Não tinha harmonia, não tinha sanfona ou zabumba para acompanhar o metálico triângulo solitário. Não tinha melodia, portanto. Só um grito.
Quando encontrava algum cliente na rua ou em porta de casa, feito malabarista habilidoso, em dois movimentos tirava o fardo da cabeça e a deitava no tripé feito à mão. Dentro dela, o doce elástico e pegajoso, feito com açúcar e coco queimado, exalava um cheiro satisfeito.
Com uma faca grande e enferrujada, cortava os pedaços de acordo com o gosto e com preço solicitado: cinquenta centavos, um real, um real e cinquenta.
Para as crianças de poucas condições, cortava pedaços fora do catálogo: vinte e cinco centavos, quinze centavos, dez centavos. Isso quando não deixava fiado. Mas era essencial que ninguém visse a artimanha.
Era segredo dividido entre ele, os pequenos e os pais, que viam tudo da janela ou do batente da porta, com olhos marejados de contentamento e gratidão.
“Quem faz pelos meus filhos, faz muito mais do que se estivesse fazendo a mim mesmo”, dizia baixinho o coração deles, antes de verem partir o vendedor ladeira abaixo ou acima com sua banda de um homem só a entoar cantilena sem melodia: “OLHA O QUEBRA-QUEIXO!”
Bernadete
Vinda de terra distante, Bernadete achou em Itagibá um lugar para florir. De tudo o que a terra dá fazia licor perfumado e doce caseiro. O melhor da região, contavam amigos, vizinhos, compradores e curiosos.
De olhos claros, tinha no canteiro flores variadas que a acompanhavam na labuta diária junto ao fogão. Gostosuras refinadas nasciam de suas mãos como mágica. Não era só culinária. Não, não. Era coisa dos céus. Era amor a preencher travessas e garrafas.
Embalagens bonitas, apresentações finas. Parecia coisa vinda de fora, talvez das terras de onde viera. E o povo da cidade todo bobo, espantado com tanto requinte para tantos quitutes.
O que Bernadete fez foi construir uma ponte, entre o urbano e o rural, mas sem a necessidade de desmatamento e poluição. Levou para aquela cidade pequena uma beleza diferente.
Deu aos olhos e bocas humildes a oportunidade de apreciar e saborear aquilo que só a quilômetros de distância estava disponível. A caridade não mora apenas na doação de bens materiais ou pecuniários. Ela vive também no coração de quem retira para os outros o véu que encobre a beleza das coisas pequenas.
Fazer, cozinhar, assar, servir, destilar e rezar pelas almas nas novenas de domingo da Paróquia Santa Maria Goretti… Se isso também não for amor, eu não sei o que é.
Gerson e Salico
Dois bares. Um ao lado do outro. No primeiro, risos, troças e bilhar. No segundo, silêncio e solidão. Os donos são irmãos. Não parece, mas são.
O bar de Salico é sempre alegre, cheio de barulho e de gente. Homens com e sem Deus no coração, com as vidas presas no tilintar dos copos mesmo em semana de quaresma.
No bar de Gerson só se encontra quem está perdido, procurando informações do correio ou delegacia. Só de passagem. Figuras perdidas entre a noite e o fim da tarde em busca de um doce ou aperitivo.
Salico tem riso aberto. Gerson, cenho fechado. O primeiro fatura bem. O segundo mal atura a clientela barulhenta do irmão vizinho, enquanto faz palavra cruzada à espera do próximo desnorteado em busca de orientação.
Dois destinos distintos, grudados parede com parede. Silêncio e tormenta na mesma calçada.
Os pais dos dois são os mesmos. A sorte, não.