Revista de Cultura

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As adaptações de quadrinhos no Brasil (III)

Capa do jornal A Nação, que publicava o
"Suplemento Juvenil", de 14.03.1934

Leia a Parte I e a Parte II.

Rafael Senra

No livro Clássicos em HQ, organizado por Renata Farhat Borges, são discutidas as adaptações feitas em quadrinhos – como são feitas e quais as especificidades próprias desse meio. No artigo “Quadrinizar a literatura ou literaturizar o quadrinho?”, Fabiano Azevedo Barroso tenta expandir as discussões sobre a relação entre texto e arte sequencial. Mencionando os focos de estudo já exaustivamente trabalhados no âmbito acadêmico – como a “gramática do enquadramento” apresentada por Umberto Eco ou alguns argumentos que tentam nivelar quadrinhos e literatura –, Barroso tem o intuito de esmiuçar o saldo dos estudos e debates a respeito das adaptações em quadrinhos, sobretudo as feitas no Brasil (Barroso. In: Borges, 2013, p. 13).

É em 1934 que se inaugura, no Brasil, a publicação de romances e contos literários adaptados para as histórias em quadrinhos. Tarzan, adaptação que o estadounidense Hal Foster fez do personagem de Edgar Rice Burroughs, foi publicado no Suplemento Infantil do jornal A Nação. O editor responsável, Adolfo Aizen, acabou por se tornar diretor da editora EBAL anos mais tarde, e seria ele o maior incentivador das adaptações – tanto as feitas no exterior e republicadas no Brasil, como as de obras de Júlio Verne e Alexandre Dumas, quanto as feitas exclusivamente por autores brasileiros, como a de O Guarani, romance de José de Alencar adaptado por André LeBlanc (Barroso. In: Borges, 2013, p. 15-16).

Na segunda metade do século XX, o mercado brasileiro de quadrinhos acompanhou poucas adaptações significativas, não só em vendagens mas também no aspecto crítico. Nos anos 2000, dois fatos são responsáveis por provocar um ressurgimento das adaptações: a sugestão de se incluir quadrinhos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como complementação didática e, em 2006, a inclusão de quadrinhos nas listas de compras de livros do PNBE (MEC) (Barroso. In: Borges, 2013, p. 17).

Assim, a partir de 2006, o mercado brasileiro de quadrinhos recebe diversas novas adaptações literárias, cujas características estéticas e editoriais guardam algumas distinções com as que eram publicadas em décadas passadas no país:

Diferentemente do que se observou no passado, sobretudo com as adaptações da EBAL, cujo estilo e grafismo refletiam aquele momento histórico – não nos esqueçamos, os quadrinhos eram intensamente questionados -, agora observamos grande diversidade gráfica, bem como certa liberdade estilística e narrativa. As editoras Ática, Agir, Peirópolis, Escala Educacional, Companhia das Letras, L&PM, para citar somente algumas, investem nesse gênero, não raro visando ao mercado didático e paradidático de livros (Barroso. In: Borges, 2013, p. 18).


Referência

BORGES, Renata Farhat (org.). Clássicos em HQ. São Paulo: Peirópolis, 2013.

Este texto é uma versão ligeiramente modificada da tese de doutorado do autor, que pode ser encontrada aqui.

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