Revista de Cultura

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Três poemas

Marina Alexiou

Visão de outono

Quem são esses outros que moram dentro de nós?
E quão audíveis são as suas vozes?

Na escuridão da história e do tempo
hei de desamarrar os meus entraves.

Hei de iluminar as minhas sombras...

Os desenhos que brilham nesse tapete 
tecido há muito

E que se perdem na imensidão do meu olhar
contam que não existe isso de ser “si mesmo”.

...Esse lindo chapéu e esse esfuziante lenço
ao redor do meu pescoço

A envolver o nó das memórias que me habitam e, 
às vezes, sufocam com desejos incessantes.

Com apelos desesperantes e, inesperadamente meus, também.


A vida é pouca para o tamanho do oblíquo do meu olhar,
perdido em perguntas para a música que convive com a 
minha canção pessoal. Será?	

A canção que trago em mim vai se juntar com
as tantas outras que lá já estão.
Até formar um impressionante coral das gerações 
que chegam. Como ondas.

Sorridentes
Plácidas em seu marulho.
Inquietantes no incessante ir e vir.

Desde a longínqua mansidão até a arrebentação 
no semblante que veste o meu rosto de mulher.

Eu sou esse mar
Eu sou esse espelho profundo e enigmático
O azul do olhar e o vermelho do beijo

A esse amor que é sem fim...

Versailles

“Criaturas dos meus sonhos despertam e dançam
Construtoras do meu reino, mágico e inacabado”

Venha sonhar, 
E conhecer os parceiros dos seus sonhos.
Gentis e silentes, curiosos dos seus pensamentos.
Sussurrantes entes que observam o seu coração e ordenam,
As imprevisíveis vontades.
Imperiosos comandos...
Companheiros de Hypnos, desenhem um belo caminho a ser vivido.
No abrir dos olhos desses que te seguem
Sem se perturbar e sem se amedrontar.
És como um rio que corre placidamente 
Mirando-nos desde a sua morada. 
Eternamente próxima
Eternamente invertida...

História antiga

Naquela aventura anciã
estão retratados os acasos, os malabarismos 
e as artimanhas da vida.

Na figura do jogador,
da acrobata
e daquela que detém os segredos da origem de tudo.

O que despertam esses arquétipos?
Jokerman não dá respostas. Só apostas.
Aleatórias. Como as nuvens.

O vento sopra. E a acrobacia desenrola as novidades e anseios.
Os movimentos do engano...

Os truques da senhora do destino se revezam
ora com doçura, ora com rigor.

Sempre em algum lugar desconhecido ao coração.

Abre-se para o seu esconderijo apenas ocasionalmente.
Sem regras. Sem indicativos do caminho a seguir.

A aventura é anciã

Desde sempre. Para sempre...

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