Revista de Cultura

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Ovídio, Metamorfoses, I.5-20

Ivan Aivazovsky, "Criação do mundo" (1864)
Museu Russo, São Petersburgo

Ovídio

Tradução de João Lucas Goulart

*Nota: este texto é melhor lido em computador ou com o celular na horizontal.

Ante mare et terras et quod tegit omnia caelum
unus erat toto naturae uultus in orbe,
quem dixere chaos: rudis indigestaque moles
nec quicquam nisi pondus iners congestaque eodem
non bene iunctarum discordia semina rerum.
nullus adhuc mundo praebebat lumina Titan,
nec noua crescendo reparabat cornua Phoebe,
nec circumfuso pendebat in aere Tellus
ponderibus librata suis, nec bracchia longo
margine terrarum porrexerat Amphitrite;
utque erat et tellus illic et pontus et aer,
sic erat instabilis tellus, innabilis unda,
lucis egens aer; nulli sua forma manebat,
obstabatque aliis aliud, quia corpore in uno
frigida pugnabant calidis, umentia siccis,
mollia cum duris, sine pondere, habentia pondus.
Antes do mar e das terras e do céu que cobre
todas as coisas, o semblante da natureza era
uno, em um orbe inteiro, o qual se chamava
“caos”: uma massa rude e desordenada, era
apenas um peso inerte e, caótico, nele estava a
origem das coisas, a discórdia do que não foi
bem unido. Até então, nenhum Titã tinha feito
nascer as luzes, nem Phoebe, crescendo,
restaurado os novos chifres, nem a Terra,
rodeante, pendia no ar equilibrada no seu
peso, nem Anfitrite estendia os braços das
terras em uma longa margem;
Lá estava a terra, também o mar e o ar: assim
era a terra instável, o mar inavegável e o ar
carente de luz; nada mantinha a sua forma, e
um obstava aos outros, porque em um corpo
as coisas frias pugnavam com as quentes, as
úmidas com as secas, as moles com as duras, e
as imponderáveis com as que possuíam massa.

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