John Keats
Tradução de Wagner Schadeck
1.
Noiva inviolada do Recolhimento! Criada por Silêncio e por Demora, Hás de expressar, Silvestre Historiadora, Flóreos jograis mais ternos que este intento! Que lenda à franja flórea em tua orla traça Mortais ou divindades tão altivas, No Tempe ou numa arcádica paragem? Que homens ou deuses? Que moças esquivas? Que luta por fugir? Que insana caça? Que aulos e adufes? Que êxtase selvagem?
2.
As melodias têm maior doçura Se não ouvidas. Toca, avena ruda! Mesmo imperceptível, sopra com ternura! Toca ao espírito a cantiga muda! Belo jovem, não poderás cessar teu canto, como a fronde que não finda. Jamais, afoito amante, jamais beijes, Mesmo com a meta à frente, pois, sem par, Ela não se esvai, mesmo que a desejes; Sempre a amarás, sendo ela sempre linda!
3.
Quem são estes chegando ao sacrifício? Obscuro sacerdote, a que altar andas Com a novilha que, infensa a todo o exício, Nos flancos veste essas florais guirlandas? Qual aldeia ao rio, ou à beira-mar, Ou colina com cidadela calma, Ficou tão erma na manhã sagrada? Aldeia, tuas ruas vão ficar Silentes, não havendo nenhuma alma A contar-te que fostes desolada.
4.
Forma Ática! Beleza sóbria, tramas De mármore homem e moça a extenuar-se, Com ramos da floresta e toscas gramas. Forma muda, dá à mente igual disfarce De eternidade: Fria Pastoral! Assolada esta geração, no anelo De um outro sofrimento hás de viver. Mas, companheira do homem, dize: “O Belo É a Verdade; a Verdade o Belo”, tal Saber é tudo o que há para saber.
Publicado em John Keats. O ciclo das grandes Odes. Tradução de Wagner Schadeck. 2ª ed. Editora Anticítera, 2023.