O espírito de Charles Lindbergh

Conrado Rosa

é um pequeno filme de três minutos e de um só plano fixo, chamado The Spirit of Charles Lindbergh. Foi a última aparição de Welles no ecrã. Poucos meses antes de morrer, já sem brilho nos olhos, Welles “escreve” uma carta a um amigo, também moribundo: Bill Cronshow. E escolhe uma passagem do diário de Lindbergh, na sua célebre travessia do Atlântico.

João Bénard da Costa

Nunca há muitos deles – nunca o bastante -, mas há homens que nascem neste mundo com um olhar fixo no mais vasto dos horizontes. Homens que conseguem enxergar sem dificuldade, além do horizonte mais distante, aquele país não conquistado que chamamos de “futuro”.

Aqui estão algumas palavras de um desses homens que eu gostaria de dedicar a outro desses homens.

Para você, Bill.

O grandioso Spirit de Charles Lindbergh está voando pelo céu adentrando a História, e estas são as reflexões que ele anotou:

Dentro de uma hora, pousarei, e, estranhamente, não tenho pressa de vê-la passar. Não tenho a menor vontade de dormir. Não tenho nenhuma dor em meu corpo. A noite está fresca e segura.

Quero ficar sentado quieto neste cockpit e deixar que penetre em mim a percepção do voo que completei.

É como lutar para galgar uma montanha em busca de uma flor rara e, então, quando ela está ao alcance da mão, perceber que a satisfação e a felicidade residem mais na busca do que na colheita.

Colher e murchar são coisas inseparáveis… Quase desejo que Paris estivesse a algumas horas de distância. É uma pena ter de pousar quando a noite está tão clara e há tanto combustível nos meus tanques.

…para você, Bill.

Orson Welles


Transcrição do filme “The Spirit of Charles Lindbergh” (1984): Conrado Rosa

Tradução de “The Spirit of St. Louis” (1953): FAB, Miguel Forlin e Conrado Rosa

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