Marcela Alves
Ponto de referência
a casa não está na casa está na calçada de amoras roxa no semblante do porteiro empurrando com força as pálpebras para recepcionar o sol nas três colheres e mais um tanto esse tanto é fundamental o mistério é fundamental não está nos móveis mas no vão entre os móveis onde o sol já recepcionado faz uma segunda casa para o cachorro morar está no jeito certo de pegar o cachorro a casa está nas pintas trigêmeas do peito nu arfante se um dia encontrasse apenas duas não saberia me orientar se um dia as pintas trigêmeas não dissessem nada do mistério a casa não estaria mais na casa e pelas paredes frias eu te choraria
Medida
experiências seguem inteiras o que estica é a pele de dentro para caber o novo histórias, dúvidas, cenas até que aquele pedaço de vida já não seja mais quem vê de fora um metro e setenta e três não imagina o tamanho a que pode chegar uma pessoa tudo isso para dizer sonhei com você como há muito não acontecia sonhos não respeitam cronologia encolhi durante o sono senti o mesmo pavor de quando te amar ocupava todos os espaços entre os meus órgãos acordei dolorida ainda pelo seu rastro lavei o rosto não mudou muito mas a imagem no espelho era tão grande se você me olhasse não reconheceria
Obsessão
Pensei em você até te gastar Meus dedos ficaram dormentes como quando em água por muito murcham feito maracujá comi maracujá, manga e a tal da maçã pensando-pensando diacho! nada tinha gosto mordida por mordida no que não era sua carne era quase nada tenho fome da fome não da saciação engasguei a fruta e a palavra que eu não disse covarde! tossi feito louca acordei a vizinhança que agora sabe de tudo que nem eu mesma sei doma-se a ação não o desejo enquanto eu não te vejo te limpo cinquenta vezes nos fiapos entre os dentes e você não sai mas quando eu te vir vou te morder feito bicho às vezes detesto ser gente pra ver se o gosto da fruta volta e eu possa viver em paz