Revista de Cultura

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FICA 2024: Diário de viagem, dia 2

(Foto: org. FICA 2024)

Miguel Forlin

Estou de volta, e, de novo, com sacolas e sacolas (ecobags) de boas notícias! Meu dia foi praticamente irretocável: assisti a bons filmes, comi muitíssimo bem e, durante uma de minhas andanças, trombei com um amigo bastante querido. Infelizmente, não vi Maria, e isso me fez lembrar da conclusão à qual chegamos naquela nossa conversa. Afinal, como é possível que, em um espaço físico tão reduzido e concentrado, tenhamos passado dois dias sem nos encontrar? De fato, o mundo é pequeno e grande…

Mas já estou divagando; voltemos, portanto, às boas-novas. A primeira delas é de ordem cinematográfica (uma vez que o que me trouxe até aqui foi o cinema, nada mais natural que eu comece falando dele, não é verdade?). Assisti a três filmes hoje, todos bons (como eu já havia dito): Aurora Frugum (2024), de Dan Oliveira; Sobre a cabeça os aviões (2022), de Amanda Costa e Fausto Borges; e The Water Manifesto (2022), de Anuoluwapo Adelakun.

Aurora Frugum foi o melhor dos três. Inclusive, é, até o momento, o melhor do festival (sei que só vi quatro por enquanto, mas deixem este pobre crítico ser hiperbólico!). Certeiro, espirituoso e bem dirigido, o curta é um ataque contundente aos alimentos ultraprocessados, tão consumidos nos dias de hoje. Até notei um excesso ou outro por parte do jovem diretor (o qual, horas depois, conheci pessoalmente por meio daquele meu amigo), mas nada que tenha comprometido a harmonia do todo. Nos momentos em que a narrativa é invadida por imagens de arquivo, Godard me veio à mente, e não consigo pensar em um elogio melhor. Fiquemos atentos, Dan Oliveira é um nome promissor…

Sobre a cabeça os aviões (título retirado de um verso de Caetano Veloso, o que muito agradou este que vos fala) revelou-se mais convencional. Contudo, dada a sua natureza – trata-se, evidentemente, de um filme-denúncia -, a abordagem protocolar fez com que o tema principal – o maior caso de envenenamento humano por pulverização de agrotóxicos em toda a história do estado de Goiás – chegasse fortemente ao espectador, como os aplausos entusiasmados do público trataram de deixar claro (o plano final é de arrepiar).

Por fim, The Water Manifesto me agradou por sua mistura inusitada e estranhamente efetiva de jornalismo investigativo, documentário institucional, matéria de TV e, pasmem, Werner Herzog! Sim, toda essa salada de frutas é temperada com um texto e uma narração em off que remetem aos documentários do cineasta alemão, e o fato de isso acontecer em uma obra tão exótica (ou seja, herzoguiana) trouxe um sorriso aos meus lábios (sou fã do Herzog).

Mas, como um homem não vive só de cinema, e o estômago tem suas exigências, já está mais do que na hora de falar da segunda boa notícia, não está?! No entanto, apesar de eu ter comido muito bem no almoço e no jantar (como sempre, meu café da manhã foi cigarro), vou dedicar este parágrafo a um único alimento. Qual? O que eu experimentei à tarde, entre uma sessão e outra, depois de ouvir mais de uma pessoa tecendo-lhe elogios: o famoso sorvete de castanha de baru, tradicional da região. Que sorvete, senhoras e senhores, que sorvete! Só de lembrá-lo, já fico emocionado. E mais não digo, pois, para saber do que estou falando, só provando-o.

Rafael Guerreiro, Viola cabocla (foto: Vinícius Schmidt)

Sendo assim, resta-nos a terceira e última notícia, nada menos do que a cereja do bolo. Refiro-me ao meu encontro fortuito com o caro Fabrício Cordeiro. Conheço o Fabrício há alguns anos, e até já trabalhamos juntos (em uma das edições do FICA, inclusive). Porém, por causa da distância (ele mora em Goiânia e eu, em São Paulo – novamente, mundo pequeno e grande…), fazia tempo que não nos falávamos. Todavia, bastou nos vermos para agirmos como se tivéssemos conversado dias atrás.

Andando pela cidade, falamos longamente sobre cinema, sobre crítica de cinema, sobre o festival, sobre o que estamos fazendo profissionalmente, sobre o estado atual do Brasil, sobre Goiás Velho, sobre viagens, sobre planos para o futuro etc. Como é bom ter a companhia de um amigo! Conversamos tanto que, quando vimos, já estava na hora de nos despedirmos. Caminhamos mais uns minutos, combinamos de nos reencontrar e, por fim, nos separamos: ele foi para o seu hotel (curiosidade: é o mesmo em que Maria está), pois participará de um evento logo cedo e precisava dormir, e eu, para a minha pousada. Com que propósito? Escrever estas linhas, é claro!

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