Pedro Rocha Souza
Véu de Maya
Maya, ontem sonhei contigo. Não propriamente contigo, mas com a imagem luminosa que faço de todo o teu ser, apaixonadamente… Por que te amo, em mim és muito diversa do que és. Por que te amo, já sois dupla: és e és em mim. És em ti, propriamente, e és mim a imagem forjada no mais profundo dos encantos. Tu és tão diversa daquilo que te penso, que o contraste entre o que és e o que te imagino faria pena. Meu Deus! Tanta pena! Pena porque teu ser perderia então o tanto que te dei. O tanto a mais que agora me és… Mas ouve… Ouve quem te confessa o inconfessável… Ainda que eu bem o saiba não seres nada, nada daquilo que toco e beijo e amo, este véu que te vela, meu amor, não penses que eu possa rasgá-lo um dia… Tu me serás sempre casta… Porque amar é viver em mentira um desejo verdadeiro.
Despedida.
Fim de tarde. O poente recorta a sinuosidade dos morros. Deitada em minha cama, de teu corpo nu, tua carne clama as últimas carícias de um adeus… E minhas mãos te atendem… Acariciam tua silhueta como o sol que morre: encobrem o cimo dos teus seios, percorrem tuas extremidades, deslizam, mansas, sobre as inclinações das tuas partes, vêm morrer na tua carne como os últimos raios de uma tarde morta… Como fossem os ventos lá fora calmos, eu te sussuro e beijo os mais tristes adeuses… Perdoa! Meus lábios verpertinos perderam o calor das manhãs que se pensam eternas… Tu te vais… Tu te vais para tão longe… Tu me dizes: vens comigo, Pedro. Te respondo: sou pobre como uma criança… E ofega meu corpo junto ao teu, menos como quem goza que como quem morre. Te sussurro um último mistério. — Adeus.
Larissa
Um certo jeito que arrumava os cabelos. Um certo jeito que sorria antes no olhar. Um certo jeito que andava, sempre calma. Um certo jeito que sentia frio nos invernos. Um certo jeito que reprimia o choro. Um certo jeito de não se esquecer alguém que não amei, de um certo jeito.