Revista de Cultura

Search
Close this search box.

Oito poemas

Francis Danby, "Pôr do sol após uma tempestade" (1826)
British Museum

Elisabeth Senra Guessada

Minhas mortes ou quando inexisto

Hoje,
         minha língua está morta

mortas
          estão as palavras

também eu
           um tanto

O tempo e o não-tempo

Nasci reivindicando
gritando e faminta
não vou morrer de depressão

não guardarei minhas fomes
nem as lágrimas
nem o nada

vou morrer como nasci: sem choro engolido

vivendo
meu tudo
- sem pressa e sem pausa

Saudade também é dor

Bate leve e 
fatia em exatas postas

uma dor
um doer

que, às vezes, não encontro
o querer viver

então, sigo
vou tateando
pelas bordas da vida
enquanto perco as
bodas vividas
e só de longe
me chegam notícias

Sou desejo

Desejar é profundo
querer é raso

quem quer está sempre querendo
quem deseja alcança

quem quer é como quem fica procurando
nunca acha

desejo

Rascunho

Meus escritos não são matemáticos
previsíveis, decifráveis
- também de mim fogem -

e nem são tão românticos
ainda que assim me escapem
vez alguma 

o que sinto
é que são, na verdade
o descontinuado

sem começo
sem fim

Anseio

As pessoas costumam me
perguntar se sonho

sim, eu sonho!

eu sonho eu poder experimentar
pelo menos por um dia inteiro
nesta vida
a verdadeira sensação do que é ser livre

Sobre amar

Se depare com o amor
e tudo o que fazia sentido
perde o sentido

e tudo o que não cabia mais sentido
passa a ser incontrolável sentir

Posso existir

Escrever é algo que me fascina
aguça minha criatividade

invento paixões 
elaboro amores
faço das dores fatores
compensadores no processo da evolução

se posso escrever sobre dores não vividas
e felicidades inventadas
o que vale é não deixar cochilar
a capacidade de imaginar

enquanto penso
talvez, eu exista

Compartilhe:

Translate