Ana Maria Oliveira
Conexão ecológica
Germinam nas profundezas associações biológicas Que aguardam a luz do dia para a florestação multicolor Perante pigmentações intermitentes em tempos bélicos Traçando penúrias nos edifícios em abatimento Com os animais à solta decepados Em direção ao poço da incompreensão humana Que aniquila a sua condição criando fossas de cadáveres Provocando a fuga de inocentes desterrados As mutações acontecem na visibilidade das tragédias Nas depressões anunciando suicídios Nos atos tresloucados sem amanhã Quando os pais chorosos ficam sem os filhos Procurando-os pelas cidades em ruínas de forma vã Predatismo é o prato do dia servido de múltiplas maneiras A espécie predadora aguarda o festival de gastronomia Para saciar a fome do chorume poluente das lixeiras em decomposição E os carcinogénicos minam as veias das crias por nascer Num tufão de sobrevivência das espécies em asfixia Explodem sismologias vulcânicas sobre estéticas em putrescência Germina o grito zoonte em dúbio inquilinismo Criando veredas ocultas de proteção e sustentáculo Geram-se vias rápidas de associação e socorro Desenham-se laços e nós cegos em interesseiro mutualismo
O poder do fogo
A forma e o volume fazem divertidas associações desenvoltas Iludindo o mundo animal alentador de utopias Os gases soltam fibras de estrangulamentos em agonias Acumulando pontos negros dentro da visibilidade comum Traiçoeiros volteiam nos espaços contíguos Amarrados pelas estéticas dos engodos Originando panoramas aguerridos de asfixias Os fluidos deslizam até às profundezas dos poços Realizando orgias de abraços camaleónicos Adquirindo as formas do parceiro devoluto Introduzem-se entre as cantarias arquitetónicas dos pilares Pedregulhos talhados na estabilidade do eterno Peso gravitacional embalado no equilíbrio das oscilações lunares A acidez e alcalinidade deslizam nas papilas gustativas dos humanos Exploradores de catalisadores aguardando a reação em cadeia Em oxidações rasteiras minadas pelas poeiras Aguardam a destilação dos monstros A evaporação dos homicidas a tempo inteiro A queda do ditador em alívio dos inocentes A condensação dos genocídios A revolta das crianças perante a separação e dor Enfrentando o poder do fogo na loucura dos presídios
Os canais a descoberto do totalitarismo
Germina a céu aberto a congeminação solitária Perante a prova da desesperança hasteada na insulação Perpetrada pela falta de encadeamentos excitantes Onde se escondem a segregação A impotência e eliminação O meu cansaço é injetado pelo processo vital De luta contra planos de acomodamento ao mal Energia corrupta que se instala no medo Na ignorância abafada do servilismo Fecundante de catástrofes genocidas E as forças tresloucadas do terrorismo Navegamos num mar invisível sem abrigo Sem amabilidade nem aconchegos Apenas a frieza de quem mal governa e orienta Sobrevivendo-se deste modo onde não há equidade E os que desorientados nesta masmorra Não têm voz perante a surdez cínica Fazem parte do vulcão em erupção Em que se tornou a injustiça social Sem teto e sem tostão
A época dos rebanhos
Os corações famintos estagnam na carência de afeto Multidões de negligenciados furam esquemas de sobrevivência Açambarcados pelo sentimento de desconexão Num mundo apavorado pelos enforcados Galvanizado pela riqueza dos desenvergonhados Perante a fracturação entre néscios verdugos e degolados Os desprevenidos e pacóvios Rebolam-se nas danças das informações falsas Sacode-se o tapete da pobreza real Sobre o horror do desemprego e apartamento Solta-se no ar contaminado a suspeita E num tango trôpego entra-se em isolamento social A escola progride na arte do espetáculo político Feito de enganos e discursos falaciosos Que matreiros vão saciando a fome de pertença dos trôpegos Apaziguando o povo infundindo a busca do propósito Mesmo incitando o risco da exclusão dos outros E o perigo do rebanho tresmalhado Sucede-se pela astúcia da matilha Que não quer saber da sustentação do amanhã Mas que esgaravata e desespera pelo osso carcomido Dos sem desígnio e sem terra Empurrados para o absurdo do abismo
Sociedade gelada
Saltarilhamos de plataforma em plataforma E neste passo de dança cada um cuida de si Espezinhando os outros de forma vil Mesmo quando apenas rola na mesa da inquisição A fruta apodrecida da indiferença pueril As mercancias progridem no rastilho fugaz das paixões Dos descarnados fios condutores das redes sociais E surgem animados no campo virtual Os pantomineiros mascarados do gestual Os coléricos com a vida Abandonados impotentes à sua sorte Ocorre-lhes o suicídio fazendo pacto com a morte Os clãs abundam em cada canto do ecrã Apresentam-se simpáticos amáveis Como quem atrai as moscas com mel Baloiçam os constrangedores empurrando os alienáveis Transportam as tribos a bandeira diabólica Neutra e cinzenta de quem mata ou morre E na subtileza do deboche apregoam - Venham meus senhores! Não se acanhem Em boa hora vos sai a sorte grande Pois os opositores dormem e relaxam Sejam cobiçosos neste estrado quebrado e arrisquem É hora de angariar mais clientes Pobrezinhos endividados até à medula Sufocados pelos invasores da privacidade aos milhões Aliciadores de egos enfraquecidos pela sabujice Hipócritas bajuladores e fanfarrões De tudo existe dentro e fora deste palco de mesmice