8 vozes instintivas – Poemas ilustrados, de Lorena Gonçalves

Claude Monet, "Impressão. Nascer do sol" (1872)
Museu Marmottan Monet, Paris

Laura Redfern Navarro

Livro de estreia da arteterapeuta baiana Lorena Gonçalves, 8 vozes instintivas – Poemas ilustrados (Edição da Autora) investiga a relação entre sujeito e natureza, atravessada principalmente pelo sensorial e pelo inconsciente coletivo. Isso se vê já pelo título e pelo número de poemas escolhidos para compor a obra, ou seja, oito, cujos significados simbólicos estão associados à noção de ciclicidade e de infinito.

Esses aspectos são explorados nos poemas e nas ilustrações de maneira visceral, em que o eu-lírico pode ser tanto uma pessoa quanto a natureza em si, sugerindo, assim, um encontro entre ambos. Nesse encontro, não há espaço para hierarquias, julgamentos ou senso comum. Na verdade, Lorena personifica o mundo natural, como se vê nos versos que descrevem o movimento de uma aranha:

O PRAZER
Conduz-me ao centro da trama
De onde fluem finos raios
Por onde posso caminhar”

(“Toque de teia”, p. 17)

Esse movimento de personificação em 8 vozes instintivas – Poemas ilustrados é aparente também nas ilustrações, que incluem olhos humanos em raízes de árvores e bocas de um vulcão. Além disso, a progressão dos poemas do livro une harmoniosamente as fases da vida (nascimento, juventude e velhice) aos momentos do dia (manhã, tarde e noite), podendo ser lido do início ao fim ou do fim ao início.

Em suma, a poesia de Lorena nos põe de frente com o autoconhecimento e com a alteridade, levando-nos a reflexões essenciais aos nossos tempos: como nós nos relacionamos com os nossos corpos hoje? E como isso molda a relação que estabelecemos com um outro corpo que é o meio-ambiente?

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