Revista de Cultura

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poemas para Liz

Phillipe-Jacques de Loutherbourg, "Avalanche nos Alpes" (1803)
Tate Museum

Bruna Escaleira

o círculo

a curva imaginada
a curva real
a curva sentida,
vivida, suportada

a curva no corpo
o corpo, os ciclos
os corpos, o círculo
os séculos e séculos

os séquitos, os contos
os cortes, as cortinas
as celas, as cintas
as carcaças, os corvos

os cantos, as cantinas
os corres, a coragem
as contas, a ciranda
o círculo, o centro
em todas as partes

parir

partir em viagem
sem volta
partir-se ao meio
sem quebra
entregar-se ao abismo
sem queda
subir
em propulsão de foguete
subir
lançar-se ao desconhecido
sem medo
pois tudo é certeza
subir
tornar-se o êxtase:

luz

mistério

como um mapa do passado
teu rosto vai mostrando marcas
das nossas raízes
semeadas pro futuro

tua testa, meu nariz
o queixo do bisavô
a boca que se abre em mãe
e fecha em pai

mistérios mutantes
que se ocultam e revelam
em pele
veias
jeitos
e gestos

enigmas e respostas
mistério da vida
no teu pequeno rosto
o grande mistério

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