Miguel Forlin
Antes de mais nada, eis as notas de todos os filmes a que assisti no FICA 2024:
Jizai (2024) (JAP), de Maiko Endo
Nota: 3/5
Aurora Frugum (2024) (BRA), de Dan Oliveira
Nota: 3,5/5
Sobre a cabeça os aviões (2022) (BRA), de Amanda Costa e Fausto Borges
Nota: 3/5
The Water Manifesto (2022) (NIG), de Anuoluwapo Adelakun
Nota: 3/5
De longe toda serra é azul (2003) (BRA), de Neto Borges
Nota: 2/5
Antonio Candido, anotações finais (2024) (BRA), de Eduardo Escorel
Nota: 3,5/5
Agora, vamos às linhas derradeiras deste Diário de viagem…
Passei meu último dia em Goiás Velho (16/06) fechado no quarto. Como eu disse, odeio despedidas, e muitas estavam acontecendo do lado de fora: o FICA 2024 terminava, a Maria estava de partida, o Fabrício estava de partida, o Rodrigo estava de partida… isso sem falar daqueles que já haviam voltado para casa, como o Bruno Jorge. Despedi-me apropriadamente de todos, mas, assim que pude, trancafiei-me na Pousada do Ipê, a qual me acolheu tão bem em minha estadia.
Permaneceram na cidade algumas poucas pessoas. Das que conheço, apenas a Karla Rady continuou por lá. Foi a Karla quem me convidou para cobrir o FICA 2024 (mais uma vez, muito obrigado, Karla!), e, desde que começamos a conversar (primeiro por WhatsApp, depois pessoalmente), criamos uma amizade. No entanto, por causa de compromissos profissionais, não pudemos nos encontrar tanto quanto gostaríamos. Até a nossa despedida teve de ser por mensagem…
O único momento em que dei as caras no mundo foi por volta das 20h, para jantar. À espera do lanche que pedi, duas moças me perguntaram se eu tinha isqueiro. Isso fez com que iniciássemos uma conversa. Seus nomes são Maria Eduarda Schwantes e Júlia Martins. A Maria é estudante de cinema (e uma desenhista talentosíssima, pelo que vi em seu Instagram) e a Júlia, cineasta. Ambas são extremamente jovens (elas têm a mesma idade, 21 anos), inteligentes e articuladas. Fiquei impressionado com as duas (por causa delas, minha esperança nas novas gerações, que nunca foi muito grande, aumentou).
Revigorado por tê-las encontrado, decidi ir ao show do Silva, no Palco Principal. Eu não conhecia absolutamente nada do sujeito, apesar de saber de toda a sua fama. Gostei do que ouvi (sua voz é bonita, e ele cantou várias canções do Caetano Veloso, artista que eu amo). Fiquei até o encerramento. Quando o show acabou, já estava na hora de voltar para fazer as malas.
E assim fiz. Porém, ao colocar a cabeça no travesseiro, senti-me triste. Não me entendam mal, eu estava feliz por tudo o que vivi, mas triste por ter de ir embora, e a tristeza se revelou maior do que a alegria.
Adormeci.
No dia seguinte, o avião decolou.
Epílogo
Goiás Velho
Miguel Forlin
De seu sol voluptuoso em que me escaldo;
de seu vento violento em que me esbaldo;
e de suas ruas de pedra em que tropeço;
me despeço,
como Adão
do Éden.
O Cântico da Terra
(Hino do Lavrador)
Cora Coralina
Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.
(Estribilho)
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.