Poemas de kairós

Francisco de Zurbarán, "Agnus Dei" (1635-40)
Museu do Prado

Luiz Renato de Oliveira Périco

O’HARIANA

tomar uma Coca-Cola® sem você não é nem de longe a mesma coisa


cada centavo conta cada segundo conta cada centímetro conta cada migalha conta cada olhadela conta cada grama conta cada grão conta cada triz conta cada bit conta cada pixel conta cada fio conta cada gota conta cada fresta conta cada neco conta cada gole conta cada peça conta cada pedaço conta cada caco conta cada ponto conta a vida é um grande por pouco

IMAGO DEI

Eu vejo a Imago Dei na face do mendigo
Cuja pobreza apenas suja sua beleza
Eu vejo a Imago Dei na face do inimigo
Sua inimizade não é a sua natureza

Eu vejo a Imago Dei na face do bandido
Sua pena apenas pune a sua dignidade
Eu vejo a Imago Dei na face do vencido
Sua derrota não o derrota de verdade

Eu vejo a Imago Dei nas faces machucadas
Nas faces escarradas, faces rejeitadas
Nas faces descompostas, faces escondidas

Eu vejo a Imago Dei nas faces mais estranhas
Moldada não nas faces, mas em suas entranhas
Eu vejo a Imago Dei em suas faces perdidas

Há pó sobre os meus livros
Os lidos e os não lidos
Há pó sobre a estante
E sobre a escrivaninha

Há pó sobre os móveis
Imóveis no escritório
E vê-se à contraluz
Que há pó até no ar

Passo o dedo na mesa
E desenho uma linha
Esse pó no meu dedo
É sua vida e é a minha

Eu vejo na parede o meu retrato
De quando ainda era uma criança
Talvez a minha infância na minha lembrança
Seja melhor do que ela foi de fato
Mas isso não tem importância
Imaginação fértil é próprio da infância
Não importa o que aconteça
Que o meu retrato nunca envelheça

DÍSTICO

Deus mora nos detalhes. Por exemplo:
Contemplo o seu sorriso - É o Seu Templo.

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