60 anos do golpe militar de 1964

Sexta-feira sangrenta, 21 de junho de 1968, Rio de Janeiro
Foto de Evandro Teixeira

Em 31 de março de 2024, relembram-se os sessenta anos do golpe militar (e civil-midiático, segundo Juremir Machado da Silva) que pôs fim ao período democrático entre 1945 e 1964 e instaurou uma ditadura que durou 21 anos, até 1985. Os prisioneiros políticos sobreviventes, cuja contagem aumenta a cada novo levantamento feito por pesquisadores, em sua maioria, ainda estão vivos para contar as suas histórias e relatar as experiências cruéis que tiveram de viver nos porões construídos pelos militares do Brasil.

Espantosamente, o assunto da ditadura militar e do golpe de 1964 ainda é matéria controversa no que tange até mesmo à sua existência. Essa controvérsia, ignara e falsa, é fruto da crescente ignorância aplaudida e fomentada pelas redes sociais, da aversão a tudo o que se entende como cultura e conhecimento, da negação da intelectualidade como uma forma de vida pessoal e profissional, tachando-a de simples arrogância, de uma falsa humildade que somente rebaixa o nível intelectual, e de um desejo de submissão a figuras autoritárias já identificado desde Étienne de la Boétie e que, hoje, pode ser explicado por psicólogos e psiquiatras.

Em uma manobra curiosa (para mantermos o decoro), eventos oficiais que resgatam a memória da ditadura militar foram proibidos pelo atual governo, em especial neste ano, um marco mais que propício para continuar a passar a limpo os atos e crimes que foram cometidos pelos militares, com largo apoio da sociedade e da imprensa. Se a manifestação governamental é desaconselhada, a civil não se pode calar.

Assim, a editoria da Littera 7 propõe uma seleção de livros, filmes e documentários que lançam lume ao período compreendido entre 1964 e 1985, buscando o esclarecimento e a informação de seus leitores, certamente avessos a todo tipo de autoritarismo e de soluções fáceis para os problemas da sociedade.

Esperamos que as indicações aqui apresentadas sejam um incentivo para o estudo desse período histórico brasileiro, ainda por ser largamente ampliado e que tantas tentativas sofre de revisão tacanha.

Por fim, para lembrar as palavras do argentino Julio César Strassera ao indiciar os militares e apoiadores da ditadura argentina:

“[…] nos cabe la responsabilidad de fundar una paz basada no en el olvido, sino en la memoria, no en la violencia, sino en la justicia. Esta es nuestra oportunidad y quizá sea la última”


Livros

Marcos Napolitano é historiador. Seu livro é uma boa introdução à história da ditadura militar, concentrando-se nos aspectos políticos, culturais e econômicos.

Os cinco volumes de Élio Gaspari sobre a ditadura militar já se tornaram um clássico do jornalismo histórico. Indicado para aqueles que desejam obter um conhecimento mais aprofundado da cronologia do poder ditatorial.

O clássico de Jacob Gorender traz a história da luta armada das esquerdas brasileiras contra o regime.

O impressionante livro de Marcelo Godoy traça a história do DOI-CODI, local em São Paulo onde ocorria parte das torturas contra presos políticos. É fartamente documentado com imagens de época e transcrições de documentos.

O livro de D. Paulo Evaristo, Cardeal Arns, é um dos maiores clássicos que denunciaram a tortura ditadura militar entre 1964 e 1979. Foi publicado em 1985.

O livro de Juremir Machado da Silva mostra como a mídia hegemônica brasileira foi apoiadora ou coonestou o golpe de 1964, destacando o papel de alguns intelectuais nesse apoio, como o de Carlos Drummond de Andrade e até mesmo Brigitte Bardot.


Documentários


Filmes

Um dos melhores e mais subversivos filmes do cinema brasileiro. Por meio de um estilo único e de uma poderosa alegoria, Terra em Transe (1964), de Glauber Rocha, revela-nos, em plena ditadura militar, os meandros do autoritarismo, da violência política e da luta pelo poder, três realidades nada estranhas à América Latina.

Dirigido pelo grande Leon Hirszman, Eles não usam black-tie (1981) é um mergulho inesquecível no drama de figuras oprimidas pela intolerância e pela violência.

Um clássico do nosso cinema. Nele, vê-se uma das reflexões cinematográficas mais profundas já realizadas a respeito do impacto e da natureza da censura.

Ação entre amigos (1998) mostra, de modo sensível e comovente, os efeitos nefastos de diferentes tipos de trauma ocasionados em vítimas políticas.

Nesse singelo filme de Cao Hamburguer, de 2006, a ditadura militar brasileira é vista pelos olhos inocentes e ingênuos de uma criança.

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Dois poemas

“…onde o roteiro é sempre inédito e desconhecido…” Dois poemas de Marina Alexiou.

O dente quebrado

Um conto do escritor venezuelano Pedro Emilio Coll traduzido por Rafael Rocca dos Santos.

Morte palavreada

“Não busque nomear as coisas. Sinta. Exista”
“Morte palavreada”, pelas mãos de Dylla Vicente, a ser publicada em seu livro Romança (2023).

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