Luciano Duarte
O galo anuncia o sobressalto,
ainda que lhe falte energia.
A botina aguardando embaixo da mesa,
uma espiada no céu pela janela,
a água esquentada pro café,
o cão rasgando a orelha,
o cuscuz mastigado sem pressa:
gestos treinados em dias cinzas.
O programa de rádio deduzido,
com a ajuda da bucha de aço,
anuncia conflitos distantes,
o fim dos tempos previstos pela avó.
No caminho pro roçado,
escoltado pelo cão sardento,
encontra a carcaça de um calango
largada no meio da rodagem
sem ninguém que o lamente.
E chora.