Revista de Cultura

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Atlântico

Adam Pijnacker, "Barco ao pôr do sol" (c. 1655)
Museu Hermitage

Maria José Leite Pereira

O astrolábio determinou o caminho das estrelas,
o Atlântico, lugar desconhecido,
povoado por monstros e sereias
foi dominado entre um misto de encantamento e medo.

Mas as águas escuras do oceano vencido
consumiram os corpos daqueles que não resistiram ao peso das Naus.
Gritos e gemidos lúgubres atravessaram o Atlântico durante séculos,
e os Barcos à vela, empurrados pelo vento levavam negros aprisionados,
e donzelas em lamento.

As trocas eram concretas:
os altares queriam ouro, e os índios queriam espelhos;
abstrata era a força da fé que empurrava os padres para às matas,
todo o resto era palpável: madeira, pedras preciosas, índias, e especiarias.

Hoje, atravessamos o oceano que nos atravessa,
e as identidades marcadas por esta travessia flutuam
sobre um espaço sem fim.

Histórias tristes, e sonhos, afundam ou emergem
conforme confrontamos a dor que sobrevoa o oceano azul
habitado pelas memórias dos antepassados.

Perdemos o caminho das estrelas,
mas ganhamos o sinal invisível do satélite
que permite a jornada de sementes coloridas,
oriundas da África de universos infinitos
que o nosso coração aquece.

Portugal, 15 de Julho de 2023

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