Maria José Leite Pereira
O astrolábio determinou o caminho das estrelas, o Atlântico, lugar desconhecido, povoado por monstros e sereias foi dominado entre um misto de encantamento e medo. Mas as águas escuras do oceano vencido consumiram os corpos daqueles que não resistiram ao peso das Naus. Gritos e gemidos lúgubres atravessaram o Atlântico durante séculos, e os Barcos à vela, empurrados pelo vento levavam negros aprisionados, e donzelas em lamento. As trocas eram concretas: os altares queriam ouro, e os índios queriam espelhos; abstrata era a força da fé que empurrava os padres para às matas, todo o resto era palpável: madeira, pedras preciosas, índias, e especiarias. Hoje, atravessamos o oceano que nos atravessa, e as identidades marcadas por esta travessia flutuam sobre um espaço sem fim. Histórias tristes, e sonhos, afundam ou emergem conforme confrontamos a dor que sobrevoa o oceano azul habitado pelas memórias dos antepassados. Perdemos o caminho das estrelas, mas ganhamos o sinal invisível do satélite que permite a jornada de sementes coloridas, oriundas da África de universos infinitos que o nosso coração aquece.
Portugal, 15 de Julho de 2023