Gladhys Elliona
Tradução do indonésio por Cássio Daniel Siqueira
Na espessidão daquele mar azul-escuro, eu despertei. Consciente de que, naquele instante, meu corpo maciço estava flutuando. Despertei e não existia mais como quando adormeci. Conheço esse meu novo eu. Já o tinha visto antes na época em que morava na aldeia. Uma grande figura subitamente me empurrou para a superfície. Ela queria que eu desse o meu primeiro suspiro no mundo. Quanto mais subia, mais a água azulada clareava. No começo, tinha tons escuros, em seguida passou a um azul brilhante, esverdeado, e um pouco transparente. Foi quando suspirei fundo, expelindo o ar de costas: ar e água irromperam juntos no espaço.
“Bem-vinda ao oceano, minha filha”.
Uma voz familiar ecoou do interior da minha saudade.
Busquei de onde vinha, mas tudo o que encontrei foi ela me empurrando até a superfície.
“Mãe?”
Enquanto devorava seu leite espesso, queria ter certeza de que aquela enorme figura que tinha junto a mim, e tinha a mesma forma que a minha, estava de fato falando comigo — com a mesmíssima voz que a minha mãe tinha.
“Sim, minha filha, seja bem-vinda; tu voltaste para mim”.
Eu não tinha mais mãos com cinco dedos. No lugar delas, tinha nadadeiras escorregadias que me permitiam remar e me mover facilmente pela água salgada. Meu corpo tinha uma forma oval, sem pernas, apenas uma cauda que balançava de cima para baixo. Eu e minha mãe nos comunicávamos, mas a nossa língua era totalmente distinta da que usávamos antes. Juntas, nos transformamos em pequenos gigantes no oceano.
“Verdade mesmo que nos tornamos baleias?”
“Sim, nós fomos escolhidas por nossos ancestrais para proteger os oceanos”.
“Eu pensei que isso fosse apenas uma história de ninar…”
“Tu podes ver a realidade agora, filha”.
E assim foi. No dia do meu nascimento, comecei a questionar à minha mãe a razão de ter renascido como uma baleia.
Eu voltei a pensar como criança. Brincava e dependia de minha mãe, mas sempre sentia como se algo faltasse, algo que deixei para trás. Cruzei o oceano sem nome próprio, assim como as baleias se chamam entre si; Mãe e Filha eram nossos nomes. E isso já nos bastava.
E então passei anos e anos a viver pelos mares ao lado de minha mãe como baleia. Ela me ensinou todas as coisas sobre a vida de uma baleia, desde comer uma grande quantidade de animaizinhos de uma só vez, os lugares seguros para se nadar por longas distâncias e descansar, até diferenciar os diferentes tipos de mares. Minha mãe também me ensinou sobre a temperatura dos mares, sobre a grande quantidade de comida que há em águas aquecidas e de ar úmido.
Lembro-me da primeira vez em que, junto à minha mãe, comi centenas de milhares de camarãozinhos em uma massa d’água quente onde muitas baleias se alimentavam durante o verão. Lá encontrei várias como nós, e com elas conversamos sobre nossas viagens no último ano. Éramos como velhas amigas confraternizando em mares estrangeiros. Não tínhamos visto baleias como nós por dezenas ou até mesmo centenas de dias. Conversamos na nossa língua, exprimindo nossas vozes acaloradas com chilreios e guinchos melódicos. Certo dia, encontramos um barco cheio de humanos que nos observavam com uma porção de aparelhos, até que escutei um deles dizer entusiasmadamente: “escutem, elas estão cantando!”
Então perguntei à minha mãe: “mãe, estamos cantando?”
Ao ouvir minha pergunta, não só minha mãe, como todas as demais baleias pequenas que comiam conosco gargalharam.
“Filha, os humanos às vezes não sabem do que falam”, disse-me uma velha baleia jubarte macho.
Lá também vi jovens baleias cachalotes machos e fêmeas se encontrarem e seguirem juntas para acasalar em sua nova jornada. Ao observar aqueles casais, às vezes me questionava: de qual baleia macho minha mãe me arranjou?
“A baleia macho que te fez surgir no ventre da tua mãe é aquela que sempre renasce para cumprir o ciclo do universo como deve ser”. Eu nunca entendi o que queria dizer com ciclo do universo. Eram termos muito estranhos para mim.
Depois, durante um inverno silencioso, percebi que, dia após dia, minha mãe se tornava cada vez mais fraca. Sua respiração não era mais profunda como antes. Ela perdeu o apetite, e tampouco tinha forças para nadar longas distâncias. Continuei a acompanhá-la até que um dia mamãe desapareceu. Na tarde anterior de seu sumiço, ela me disse para que eu continuasse a nadar, cruzando os oceanos. Disse que, um dia, eu visitaria um lugar já conhecido por nós e lá morreria.
“Antes de seguires para o paraíso verdadeiro, tu te depararás com a morte uma vez mais para te ofereceres em benefício, e então teu coração se tornará eterno”, disse ela.
Procurei minha mãe em todos os lugares até chegar a terra firme, em uma pequena ilha. Vi seu corpo enorme encalhado imóvel naquela praia, sem sinais de maus tratos. Ela morreu porque sabia que o seu tempo tinha chegado. Desde então, passei a perambular sozinha.
Desde que minha mãe morreu, cada vez mais me esquecia de minha vida pregressa. Agora eu comia muito mais, encontrava muito mais amigos de viagem de espécies diferentes da minha.
Então chegou o momento em que precisei ir para águas mais quentes em busca de comida. Dessa vez encontrei águas quentes de fato, diferentes das anteriores. Ali não vinham criaturas do mesmo gênero que eu. Quando eu exalei e toquei sutilmente a superfície da água, senti um cheiro muito familiar: uma mistura de cheiro de areia quente, lascas de madeira flutuando no mar e odor de peixe vindo de longe, na costa. Eu conhecia muito bem esse cheiro. Era um tanto estranho, uma vez que minha espécie não é do tipo que possui um olfato apurado.
Descansei ali sozinha por um instante, e nadei calmamente por aquele pequeno mar, até que avistei a figura de um pequeno humano nadando em minha direção. Eu tinha certeza que ele era um menino ainda muito jovem. Tomei coragem e segui na direção daquela criança. Ela nadava sem carregar nada e parecia querer apenas se aproximar de mim. Então, nadei com ele. Circulamos um ao outro. Ele se arriscou a tocar meu corpo e me chamou com a voz abafada sob a água. Um nome muito familiar.
“Ma!”
De repente, uma lembrança intensa de minha vida pregressa me atravessou. Eu era a mãe de duas crianças, uma que morreu de fome, e outra que sobreviveu e quem amei. Minha lembrança derradeira foi em uma cama. Eu estava doente ao lado de meu último filho moreno da cor de um coco seco, e de cabelos encaracolados como as ondas do mar que não cessam de se repetir na praia da nossa aldeia. Emiti um chilreio e um guincho. Talvez ele não entenda a minha pergunta: “tu és meu filho?”
Di kedalaman
Dalam kepekatan air biru tua itu, aku terbangun. Aku sadari, tubuhku yang tambun sedang berenang-renang. Aku terbangun dengan wujud tak seperti saat tertidur. Aku kenal wujud baruku ini, aku pernah melihatnya dulu sewaktu tinggal di kampung. Sesosok besar di sebelahku menggiringku naik ke permukaan. Ia ingin aku mengambil napas pertamaku di dunia. Air yang kebiruan semakin lama semakin menerang. Mula-mula warna gelap, kemudian berubah menjadi biru cerah, kehijauan, dan agak bening, lalu dari punggung aku menyemburkan napas panjang: udara bercampur air yang menyemprot ke angkasa.
“Selamat datang di samudra, anakku”.
Sebuah suara yang tak asing, juga sangat kurindukan, menggema.
Aku mencari sumber suara itu, tetapi yang kutemui hanyalah ia yang menggiringku ke permukaan barusan.
“Ibu?”
Sambil melahap susu berbentuk padat yang ia suapkan kepadaku, aku memastikan sosok besar di sampingku yang berwujud sama denganku itu berbicara kepadaku—dengan suara persis suara ibuku dahulu.
“Ya, anakku, selamat datang, kau kembali bersamaku”.
Aku tak punya tangan berjari lima. Bentuknya kini seperti sirip yang bisa mendayung, licin, dan dengan mudah membuatku bergerak dalam air asin. Badanku berbentuk lonjong dan tidak memiliki kaki, hanya ekor yang mengibas dari atas ke bawah. Aku dan Ibu berkomunikasi, tetapi bahasa kami sama sekali berbeda dengan yang dulu kami gunakan. Berdua, kami menjelma raksasa kecil di lautan.
“Apa kita benar-benar menjadi paus?”
“Ya, kita telah dipilih leluhur untuk menjaga perairan”.
“Aku pikir, itu hanya cerita pengantar tidur…”
“Kau telah melihat kenyataannya sekarang, Nak”.
Begitulah, di hari lahirku, aku mulai mempertanyakan alasan aku terlahir kembali menjadi seekor paus betina kepada ibuku.
Aku kembali berpikiran seperti kanak-kanak. Aku bermain dan tergantung pada ibuku, tetapi aku selalu merasa ada sesuatu yang hilang, yang aku rasa aku tinggalkan. Aku mengarungi samudra tanpa nama panggilan, sebagaimana paus memanggil sesamanya, Ibu dan Anak saja panggilan kami. Dan itu sudah cukup.
Kemudian, bertahun-tahun aku hidup di laut bersama ibuku sebagai paus. Dia mengajariku segala hal tentang kehidupan seekor paus. Makan binatang kecil dalam jumlah besar, tempat yang aman untuk berenang jarak jauh dan beristirahat, hingga membedakan bermacam-macam laut. Ibu juga mengajariku tentang suhu laut, bahwa di perairan yang hangat dan udara lembap, di situ makanan berlimpah.
Aku ingat kali pertama aku bersama Ibu memakan ratusan ribu udang kecil di sebuah perairan hangat yang saat itu banyak paus sedang bersantap di musim panas. Di situ aku bertemu beberapa ekor paus seperti kami dan mengobrol tentang perjalanan kami setahun belakangan. Kami bercengkerama seperti sahabat yang sedang reuni di lautan asing. Puluhan bahkan ratusan hari lamanya kami tak bertemu paus seperti kami. Kami mengobrol dengan bahasa kami, memberikan suara kehangatan dengan cuitan dan lengkingan bernada. Suatu ketika kami bertemu kapal berisi manusia yang sibuk menonton kami dengan bermacam peralatan. Salah satu dari mereka aku dengar berseru: “Dengar, mereka bernyanyi!”
Aku kemudian bertanya kepada ibuku, “Ibu, apakah kita sedang bernyanyi?”
Mendengar pertanyaanku, tidak hanya ibuku yang tertawa, seluruh kumpulan paus kecil yang kebetulan sedang makan bersama kami pun terkekeh-kekeh.
“Hei, Nak, manusia kadang tidak mengerti apa yang mereka bicarakan”, seekor paus bungkuk jantan tua berkata kepadaku.
Di sanalah aku juga melihat paus sperma jantan dan betina muda yang baru dewasa bertemu, kemudian pergi bersama untuk kawin dalam perjalanan baru mereka. Melihat pasangan itu, kadang aku bertanya, dari paus jantan mana Ibu mendapatkan aku?
“Paus jantan yang menghadirkanmu di rahim Ibu adalah ia yang selalu terlahir kembali untuk menjalankan siklus semesta sebagaimana mestinya”. Aku tak pernah mengerti yang dimaksud dengan siklus semesta. Istilah yang sangat asing.
Lalu, pada suatu musim dingin yang sepi, aku melihat dari hari ke hari, Ibu semakin melemah. Napasnya tak sepanjang dulu. Ia kehilangan nafsu makan, pun tak kuat lagi berenang menempuh jarak yang sangat jauh. Aku terus mendampinginya hingga suatu hari Ibu menghilang. Sore harinya sebelum menghilang, ia berkata kepadaku untuk terus berenang mengarungi samudra. Ia berkata bahwa aku akan mengunjungi sebuah tempat yang pernah kami kenal dan akan mati di sana.
Sebelum berpindah ke surga yang sejati, kau akan menghadapi kematian sekali lagi untuk memberikan manfaat, lalu hatimu akan abadi”, katanya lagi.
Aku mencari Ibu ke mana-mana hingga mencapai daratan, sebuah pulau kecil. Kulihat tubuh besarnya terdampar tak berkutik di pantai itu, tanpa tanda teraniaya. Ia mati karena ia tahu waktunya telah tiba. Sejak itu, aku mengelana sendiri.
Sejak Ibu mati aku lebih sering lupa kehidupanku sebelum ini. Aku makan lebih banyak, bertemu lebih banyak teman seperjalanan yang berbeda bentuk denganku. Lalu, tiba saatnya aku harus pergi ke perairan yang lebih hangat untuk mencari makan. Kali ini aku menemukan perairan hangat yang begitu berbeda dari sebelumnya. Tidak ada makhluk sejenisku yang datang ke sini. Ketika aku menyemburkan napas dan sedikit meraba permukaan airnya, aku mencium bau yang pernah sangat kukenal: campuran antara bau pasir panas, sedikit kayu serut yang hanyut di laut, dan amis ikan dari kejauhan di pesisir. Aku sangat mengenal bau ini. Cukup aneh mengingat spesiesku bukanlah jenis paus yang memiliki penciuman tajam.
Aku istirahat sebentar sendirian dan berenang-renang dengan tenang mengitari lautan kecil itu, sampai kemudian aku melihat sesosok manusia kecil berenang ke arahku. Aku yakin betul dia adalah anak laki-laki yang masih sangat muda. Aku memberanikan diri menemui anak itu. Dia berenang tanpa membawa apa-apa dan seperti hanya ingin menghampiriku. Aku kemudian berenang bersamanya. Kami mengitari satu sama lain. Ia memberanikan diri menyentuh tubuhku dan memanggil nama yang sangat tidak asing untukku dengan suaranya yang teredam di dalam air.
“Ma!”
Seketika, sebuah kelebatan ingatan tentang hidup masa lampauku melintas. Aku seorang ibu dengan dua anak, yang satu mati kelaparan, yang satu selamat dan kusayangi. Ingatan terakhirku berhenti di sebuah ranjang. Aku sakit di samping anakku yang terakhir, berkulit secokelat kelapa tua, dan berambut ikal seperti gelombang laut yang tak henti menggulung pesisir kampung kami. Aku memberinya sebuah cuitan dan lengkingan. Mungkin ia tak mengerti pertanyaanku, “Kaukah anakku?”