David Medeiros
Sous des nuages d’orage
Rotina da imensidão azul
pesar sobre o verde
As nuvens carregadas
que vêm nela costuradas
são os sinais mais antigos
da brava frágua que nos ronda
A nós nos resta
o caminho pela relva
Convite para seguirmos
membros da paisagem
Beijos e feliz 1974!
Grafada assim em verde a penúltima
frase na carta de um homem aprisionado
Na folha endereçada à esposa e ao filho
livros sugeridos em um recorte de jornal
Ele que não consegue mais abrir os livros
pois a atenção não para nas palavras
Que não consegue usar todas as cores das
hidrográficas enviadas pelo filho, que vê
o assunto que tinha fugir da boca, além
de estar distribuindo o pouco que trouxera
Já não encontra o sono mesmo em tal espaço
Quer saber dos planos de férias da família
Diz que outro dia vendo o céu azul cobalto
pareceu-lhe que as nuvens iam atrás de algo
Mesmo com tudo, via, sentia, desejava
dias mais felizes, mais senhores de si
Ré do rex
Se depois de uma esfiha de zátar
como um quibe de batata
é estalado o prazer e imediata
uma forte vontade de dar ré
Se tivesse substituído Sherazade
nas noites de serviço ao facínora
estou certo de uma aurora ter ganho
se pudesse ensinar a Xariar
a arte milenar de retroceder
Mas como dizem que Shêra passou
uma temporada extensa em tal trabalho
acredito que tenha contado ao rei
ao menos as benesses de um fio terra
RETROCEDER
Parece a história ensinar ser esse
UM PASSO NECESSÁRIO
em momentos de imperioso retrocesso
Temporadas em lugares quentes
Para Reginaldo Rossi y Rimbaud
Não tardava muito romper a manhã
Procurava então lugares mais sossegados
quando encontrei viva y sonorosa estalagem
cujo som alto e retumbante fazia-se manto
sobre o bate estaca do espigão que somava
a outros sendo erguidos ali ao lado
Ao garçom, peço um destilado
Vejo Sancho Panza na mesa próxima
dizer ao Quijote o quanto o ama
Pude entender que já não mais nutriam
qualquer interesse em gigantes
como na história de David após
derrubar com a funda o filisteu
Na vibrante vitrola feito orquestra
aconchegantes canções a luz jaculam
De repente um sol na madrugada
Rafael, que conheci em Córdoba
Ele por aqui, primeira vez nas cercanias
Senta-se na cadeira frente a minha
Pensamos em vermute, pedimos cubas
Estar com alguém com um par de asas
na nuca era um certo céu sem pedágio
A parede de azulejos do lugar por luzes
multicolorida irrigada estava tomada
pelo JARDIM DAS DELÍCIAS que
Rafael havia negociado com o Prado
Na mesa ao lado Arthur y Reginaldo
comparam poemas y canções e declamam
Rimbaud a parte em francês de
Mon amour meu bem ma femme
Reginaldo lê na língua de Corneille
Délires I e II do amante de Verlaine
Eu e o ser alado do Recife juntos
por um punhado a mais de instantes