Revista de Cultura

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opções para morrer no espaço, três poemas

George Bellows, "Noite de verão, Riverside Drive" (1909)
Columbus Museum of Art

Dalila Teles Veras

V

fujo dos lobos aos uivos em minha direção
ouço o estalido das folhas do outono sob meus pés
e nem de longe isso lembra o som da marcha em fúria
cascos sobre o asfalto juvenis provocações e enfrentamentos

passar ao largo agora é questão de sobrevivência
- impotência disfarçada de arrogância -
em passos lentos dá-se a meia-volta
olhar dirigido para o nada absoluto

arma cortante do silêncio em contrapressão aos
ruídos exagerados
pura estratégia de guerra não declarada

XVII

não são de hoje as noites insones e maquinações
das quais saio enriquecida de mais horrores
inquietações e questionamentos sem resposta

como construir uma arca anfíbia carregada
de destroços com ilimitada capacidade de
voo sem necessidade de abastecimento
sem destino definido e a zilhões de anos-luz

como inventar uma máquina recuperadora
de cérebros em evidente estado de deterioração

como reinventar a humanidade que não deu certo

como
?

XXIII

dentro da noite breu apresso o passo assustado
não conheço o caminho e a lama dificulta o andar
recrimino a mim própria pela teimosia da escolha
tento seguir mas os sapatos chapinham retardam o
caminhar aumentam o medo e a aurora tarda

não raro sonhos soturnos abalam meus nervos
cotidiano assaltado por realidades assemelhadas
noite misturada ao dia expande o pesadelo os ombros
envergam sob a insustentável carga em curto-circuito
transfigurá-los em poesia é vingança servida quente

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