Dalila Teles Veras
V
fujo dos lobos aos uivos em minha direção
ouço o estalido das folhas do outono sob meus pés
e nem de longe isso lembra o som da marcha em fúria
cascos sobre o asfalto juvenis provocações e enfrentamentos
passar ao largo agora é questão de sobrevivência
- impotência disfarçada de arrogância -
em passos lentos dá-se a meia-volta
olhar dirigido para o nada absoluto
arma cortante do silêncio em contrapressão aos
ruídos exagerados
pura estratégia de guerra não declarada
XVII
não são de hoje as noites insones e maquinações
das quais saio enriquecida de mais horrores
inquietações e questionamentos sem resposta
como construir uma arca anfíbia carregada
de destroços com ilimitada capacidade de
voo sem necessidade de abastecimento
sem destino definido e a zilhões de anos-luz
como inventar uma máquina recuperadora
de cérebros em evidente estado de deterioração
como reinventar a humanidade que não deu certo
como
?
XXIII
dentro da noite breu apresso o passo assustado
não conheço o caminho e a lama dificulta o andar
recrimino a mim própria pela teimosia da escolha
tento seguir mas os sapatos chapinham retardam o
caminhar aumentam o medo e a aurora tarda
não raro sonhos soturnos abalam meus nervos
cotidiano assaltado por realidades assemelhadas
noite misturada ao dia expande o pesadelo os ombros
envergam sob a insustentável carga em curto-circuito
transfigurá-los em poesia é vingança servida quente