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FICA 2024: Diário de viagem, dia 1

Foto: Yan Rissatti

Miguel Forlin

Após o meu voo sair um pouco atrasado de São Paulo, cheguei a Goiânia em ponto, exatamente no horário previsto (ainda estávamos no dia 10). Para quem não tem a menor paciência com viagens de avião, essa surpresa, a primeira de algumas que me aguardavam, é mais do que bem-vinda. A seguinte foi ter sido recebido no aeroporto, e por um jovem simpático e receptivo, mas de cujo nome eu não me lembro (meu caro, se você estiver lendo este texto, perdoe-me, o cansaço e o sono já haviam me pegado), o qual, logo depois de nos cumprimentarmos, informou-me que o trajeto de carro de Goiânia a Goiás, feito por um motorista, contaria com a presença da cineasta Maria Esperança Pascoal (a terceira boa surpresa da noite).

E assim se deu. Por uma hora (a viagem levou duas), Maria e eu conversamos sobre nós mesmos e sobre cinema. Eu disse que vinha de São Paulo e ela, que vinha de Lisboa (para ser jurada de uma das mostras competitivas). Maria nasceu em Luanda e foi a primeira angolana a se tornar operadora de câmera. Hoje, ela divide seu tempo entre Paris e a capital portuguesa. Depois, Maria me perguntou sobre o meu primeiro longa-metragem, Haceldama, e eu lhe disse o pouco que costumo dizer. No restante do tempo, falamos sobre como é difícil fazer filmes atualmente, seja no Brasil, seja em Portugal. Ao fim de tudo, antes de adormecermos no carro, concluímos que o mundo é, ao mesmo tempo, grande e pequeno: grande porque moramos longe um do outro e pequeno porque, em Goiânia, onde havíamos acabado de pisar pela primeira vez, pudemos nos conhecer pessoalmente.

Em seguida, dormimos, e só voltamos à vida quando o motorista parou o carro na frente do hotel em que Maria se encontra hospedada. Nós nos despedimos e lançamos ao acaso a possibilidade de nos reencontrarmos (se isso acontecer, vou pedir para entrevistá-la). Minutos depois, foi a minha vez de repousar. O dia 11 já havia começado, mas aquela maré de sorte persistiu: a pousada e o quarto onde estou são um charme. Descansei as malas, fui para o lado de fora, fumei dois cigarros (os primeiros fumados por mim em Goiás Velho), voltei, tomei banho, deitei-me, respondi mensagens e, por fim, adormeci.

Foto: Vinícius Schmidt

Às 9:00, acordei me sentindo bem e descansado. Tomei outro banho, coloquei uma roupa confortável e saí para explorar a cidade, um dos Patrimônios Mundiais (título reconhecido e concedido pela UNESCO). Andei o dia inteiro, e o saldo se mostrou extremamente positivo: tirei diversas fotos, conheci pessoas interessantes, almocei um típico prato brasileiro, comprei livros… Em suma, não posso reclamar. No entanto, minha energia não é a mesma de anos atrás e, cansado, retornei à pousada para recarregá-la.

Recuperado, ouvi os tambores da Escola de Samba Associação Atlética União Goiana a distância e me encaminhei ao Cine Teatro São Joaquim para assistir à cerimônia de abertura e ao filme de estreia, Jizai (2024), da cineasta Maiko Endo, os quais eu estava ansioso para conferir.

A abertura serviu para reforçar a importância inegável do FICA e o seu compromisso com o cinema e o meio ambiente. Em relação ao curta de Endo, apesar de ele conter momentos irregulares, gostei do resultado final: ela trabalhou a questão da inteligência artificial densa e criativamente, chegando, inclusive, a superar o atual cinema de David Cronenberg (a obra do canadense foi, de modo claro, uma das principais influências da diretora em Jizai).

Evidentemente, isso me deixou bastante satisfeito com toda a bem-aventurança do meu dia (e da noite anterior), e foi com ela que, após assistir a uma parte de cada um dos dois eventos derradeiros (um recital de poesia e um show de MPB), subi rumo à minha acomodação e dei início a este texto. Espero que o dia 12 seja tão bom quanto o dia 11 e que eu reencontre vocês leitores com mais sacolas (ecobags) de boas notícias! Nos vemos em breve!

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