Jules de Faria
#2
Acreditei um dia
Ter potencial
Talvez não tenha
Espero que não!
Pois não se trata
De virtude natural
Potencial é dado
Pelos outros
Não como bênção
Mas como limites
Não como regalo
Mas como ofício
De cumprir com o que
Se espera de mim
Não me esperem, não
Já fui
#6
O desespero por transparência
Não tem apetite por conexão
É fuga para quem a vomita
A depressão de quem a recebe
Se enche e se aplana
Rapidamente
De opiniões tão plásticas
Que não há humanidade
Capaz de elaborar
Sobrecarregada, percebo
– Vocês quiseram me afogar
Para me vender
Ar
#7
Enfeitiçada pelo som da minha voz
Achei que eu e meus feijões mágicos éramos um só
Só que os moinhos trabalham de sol a sol
Moendo moendo moendo
O que sobra quando tudo vira pó
E grãos inteiros reclamam meu espaço?
O que brota e desabrocha
Se mostra deslumbrante
Mas vivacidade mesmo
Está na mão que planta
Aprendi no inverno duro que cultivar é paciência
Entender que o momento de morte desse ciclo
Se apresenta como a noite que desbota pensamentos
E traz, para remediar, novos sonhos
#10
O espetáculo do eu mesma
Precisa se apresentar todos os dias
Quando as cortinas se fecham
O público esquece
Que a protagonista existe
#20
Entre o horroroso e o maravilhoso da vida
o banal
a costura do dia a dia