Revista de Cultura

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Talvez este não seja o meu ano

Louis-Jean-François Lagranée, "La mélancholie" (1785)
Museu do Louvre

Jules de Faria

#2
Acreditei um dia
Ter potencial

Talvez não tenha
Espero que não!

Pois não se trata
De virtude natural

Potencial é dado
Pelos outros

Não como bênção
Mas como limites

Não como regalo
Mas como ofício

De cumprir com o que
Se espera de mim

Não me esperem, não
Já fui

#6
O desespero por transparência
Não tem apetite por conexão
É fuga para quem a vomita
A depressão de quem a recebe
Se enche e se aplana
Rapidamente
De opiniões tão plásticas
Que não há humanidade
Capaz de elaborar

Sobrecarregada, percebo
– Vocês quiseram me afogar
Para me vender
Ar

#7
Enfeitiçada pelo som da minha voz
Achei que eu e meus feijões mágicos éramos um só
Só que os moinhos trabalham de sol a sol
Moendo moendo moendo
O que sobra quando tudo vira pó
E grãos inteiros reclamam meu espaço?

O que brota e desabrocha
Se mostra deslumbrante
Mas vivacidade mesmo
Está na mão que planta

Aprendi no inverno duro que cultivar é paciência
Entender que o momento de morte desse ciclo
Se apresenta como a noite que desbota pensamentos
E traz, para remediar, novos sonhos

#10 
O espetáculo do eu mesma
Precisa se apresentar todos os dias
Quando as cortinas se fecham
O público esquece
Que a protagonista existe

#20
Entre o horroroso e o maravilhoso da vida

o banal
a costura do dia a dia

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