Maurício Rosa
o homem que encosta a cabeça no meu ombro e dorme
tem calos, torções e cicatrizes na palma da mão
por acaso adivinhei seu sonho: era com cardumes
e a fome inaugural que ele sonhava
pude ouvir o sopro de sua respiração laboriosa
de planos abatidos no ar
pude ouvir seu coração de marcha forçada
disparando como uma flecha em direção ao deserto
acreditei que aquele homem fora submetido
a inalcançáveis maneiras de fadiga
e que no ombro de qualquer um ele pediria repouso
depois de vencer distâncias no próprio lombo
quando enfim também me deixo sossegar
e o sono do homem parece profundo e apaziguado
descubro que o amo
e hoje
por todas as razões possíveis
lhe peço perdão