Marina Alexiou
“A todos vocês que dividiram a sua sombra comigo E mostraram caminhos tão humanos...”
Nos meus olhos e no meu olhar vivem a tristeza da inclemência do tempo, da natureza, e a certeza de que o estranho riso que brota dos meus tantos eus é irmão desses espantos diante do gigantesco. A todos que se aproximaram da minha sina abro espaço aos seus pés cansados, suas vestes rotas e seu imerecido martírio. À sua volúpia, contida em estudados disfarces e para a generosidade e sabedoria diante daquilo que se impõe de forma definitiva. Mas que poucos verão... Eu lhes apresento ao mundo que não passa de uma colcha de memórias, onde o jogo de luzes das trevas e da beleza refletem e acendem ainda outras, através das gerações. O meu hálito, este que carrego em densas nuvens tempestuosas sopra entre abismos que não permitem descanso. Os gritos, uivos de surpresa e dor, são os raios que antecedem a verdade que será contada continuamente por outros, que, assim como eu (o Louco com o saco dos destinos humanos às costas) dirigem-se em sua direção, sem escolha... < para Micheli da Caravaggio >
Aquele sabor do invisível
Todo simulacro é algo de ausência de perda daquilo que é único mergulhado no mar da fluidez das aparências Você se foi. Se perdeu. Por quê? E se corrermos até perder o fôlego a floresta iria rir de nós, novamente? Na fixidez do seu olhar você se reconheceu no espelho dos meus olhos No invisível da sua face escondida até então... Dentro de olhos estrangeiros que te refletiram com a luz do sorridente engano da voz daquela floresta onde corríamos a nos camuflar da dúvida e do espanto da existência... Hoje ela nos olha firmemente através das suas pupilas brilhantes como um destino ainda a descobrir. Chegaremos lá?