Viagens solitárias

Edward Hopper, "Quarto de hotel" (1931)
Museu Tyssen-Bornemisza, Madri

Leonardo Castelo Branco

Dizem que só se conhece verdadeiramente uma pessoa quando se viaja ao lado dela. Como viajo bastante sozinho, desfruto do privilégio de me redescobrir em movimento, sempre aberto à possibilidade de explorar paisagens externas e horizontes internos. Prefiro cidades com poucos atrativos turísticos e, ao visitar um novo destino, mesmo acompanhado, faço questão de descobrir pelo menos um lugar mais isolado, longe dos roteiros convencionais. A cada nova viagem, opto por hospedagens centrais que favoreçam a exploração da cidade a pé.

Sempre procuro quartos com janelas amplas que me permitam observar a vida pulsando lá fora, enquanto cortinas pesadas oferecem a possibilidade de me isolar completamente do mundo exterior quando necessário. Há uma energia quase palpável em quartos de hotéis, como se as paredes e os objetos guardassem sussurros das histórias que já passaram por ali. Tenho o hábito de explorar o espaço em busca de marcas: um arranhão na madeira da mesa, as bordas desgastadas de um espelho, ou um leve rastro de perfume que ficou para trás. Às vezes, sento na cama e me pergunto: quem esteve aqui antes de mim? Quem riu, quem chorou, quem deixou seus sonhos neste espaço, entre recomeços e despedidas? Imagino rostos, expressões e gestos, como se participasse de um jogo silencioso cujo objetivo fosse resgatar fragmentos da memória dos hóspedes que passaram pelo mesmo quarto antes de mim. Também encaro com espírito aventureiro os pequenos desafios que o quarto reserva aos hóspedes recém-chegados, como desvendar o segredo para esquentar a água do chuveiro ou encontrar uma tomada disponível para carregar o celular. Essas pequenas descobertas e exercícios imaginativos me remetem ao sentimento de lar, criando uma conexão improvável entre o breve e o permanente.

Hotéis, espaços transitórios, que pertencem a tantos e, ao mesmo tempo, a ninguém, contrastam com as ruas lá fora, pulsando com histórias que ainda estão sendo escritas. É nelas que me perco e me reencontro durante as viagens solitárias, muitas vezes sem mapas ou roteiros, guiado apenas pela curiosidade e pela promessa do inesperado. Quando caminho pelas ruas de uma cidade nova, sinto uma vitalidade que raramente aparece em São Paulo, onde a rotina deixa pouco espaço para o inesperado.

Há algo profundamente prazeroso em sair cedo para explorar o centro de uma cidade desconhecida, sentar em um café aleatório e simplesmente apreciar o momento. Sempre busco uma mesa com vista para a rua, na qual posso passar horas observando o fluxo da vida e registrando mentalmente os detalhes que mais despertam minha curiosidade. Nas noites viajantes, sigo o mesmo ritual. Escolho um bar frequentado por locais, sento-me no balcão e deixo meus sentidos absorverem o ambiente ao redor. Às vezes, faço anotações no meu bloco de notas; em outras vezes, me envolvo em longas conversas com os frequentadores. Essas noites costumam ser extremamente agradáveis e são as partes da viagem que mais tempo perduram no pensamento.

No entanto, por mais encantadoras que sejam essas experiências em trânsito, o retorno para casa é sempre a melhor parte de uma viagem. Nada se compara ao momento de deitar novamente na minha própria cama e sentir o cheiro familiar dos meus lençóis. É no silêncio acolhedor do meu quarto que as memórias da viagem se reorganizam, como peças de um quebra-cabeça, e eu, finalmente, me dou conta de que viajar é, acima de tudo, voltar para dentro de mim mesmo.

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Lollitd

Os comentários na boca do povo iam de um deboche preconceituoso à defesa da jovem com uma anêmica argumentação.

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