Poeta desconhecido
Poeta oculto, escreves calado. Nada te vela, ninguém por ti ora. Surges na densa noite aluado, põe-te a lamentar versos afora. O céu violáceo vislumbras na soledade que te é credor. Golfas as mui líricas profundas, teu ímpeto somente é dor. Divaga pela infância a encontrar ensejo triste que suscitasse este teu atual desencantar (quem dera tu encontrasses!). Quem és tu, poeta solitário? Quem és tu, poeta que morreu? Leal, as sombras do imaginário. Tal oculto poeta sou eu!
Elegia à tua Ausência
Meus sonhos se dissiparam no sobressair da noite, contudo lastimo o teu perfume na névoa obscura do céu sombrio; solevo os braços e toco, brandamente, a tua fronte gotejando lágrimas no firmamento. Eu irei vagar, como um vagabundo, ao jardim que não anuvia proclamando a mensagem do meu amor. Colherei as rosas com teu bálsamo, proferirei aos vales: Ela está ausente mas canto a tua doçura presente. Os vales me reconfortaram, serão como a mãe que amparou o órfão. Fiz-me desamparado e sem rumo; nuvem perdida, pássaro distante. Os dias são longos, a noite também, ambos anunciam a soledade que tu deixaste. Mas brota dentro de mim, na extraviada noite sem fim, a poesia da tua memória.
A um Pianista
I Ressoe tua música ao mundo! Ressoe na noite que já se tolda; e verte uma chuva no profundo rutilar da alma na amplidão... Cante Poesia, cante tua solidão! Tens um piano de bruma prata, cinza, tão cinza como a ilusão da liberdade no campestre de um contentar no coração! Cante Poesia, pois não há nada!
II Raia no pretume faiscar estrelado do firmamento e tua soledade o uniforme canto da saudade! Os homens, do mal desatado Tocam infinita poesia de amar! E tu, a sós no teu leito escuro, dá nome à melodia e harmonia, perfaz Viva a comédia da vida, e música o Mar bravo e duro! Toque tua música, ó pianista!
III Tu formas teu devido mundo, idealiza uma unificada dor; e no teu coração fecundo desabrocha a música, torpor da infância perdida, antigo amor! Toque pianista à noite solene, enquanto o silêncio cantante da noite à Via-Láctea treme; és tu de uma alma insonte, e eu, o poeta que te escreve.