Revista de Cultura

Search
Close this search box.

Revista de Cultura

Search
Close this search box.

Sete poemas

Dordio Gomes, "O rio Douro", 1935.
Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

Pedro Vale

É preciso viver sem paixões.
Mergulhar no absoluto anonimato,
Permanecer morto ou vivo até ao fim.
Aclamar o tumulto escuro e bruto.
Encenar o drama clemente e lento.
Sentir um amor ideal por anjos nebulosos.
Descobrir um novo fundo de poesia e aguardar
uma voz que nos ordene docilmente:
- Não te movas, nem te inquietes,
nem traias o que
ainda não
és.

Porto
A poesia vai
Pela rua,
Nua.
Esconde-se
Nas manhãs mais
Frias.
E é à noite que lhe foge
A voz.
Lenta
E lenta,
Lentamente,
Até
Desembainhar
Na
F
O
Z

Luz(a) alma
Sossega e vive do ar
A cómoda alma, armário espacial.
Plana e cisma a esmola pintada
Na rua nua e perfumada.
Sonha a universal fundação,
À beira-rio, navio-fantasma e fruição.
Entoa, na guitarra infantil, dramática gente,
Num acorde simples, medieval.
- Ó alma lusa,
Acorda e sente,
Mesmo que à tangente,
O que é ser filha de Portugal.

O poema
como
Pétala de escravo
marinho
que enternece.

Hoje acordei com uma andorinha no estômago.
A noite era de tempo limpo e sono.
Sabia a quebra milenar, cabelo solto.
Nenhuma angústia, lei, mato ou víscera defronte.
O prédio seguia o seu curso normal de vida, espécie de abrigo impune.
Gineceu.
Observava sem capacidade estrelada o céu, quando a miúda astronomia me
Espantou a inocência.
A circular impressão se revelara.
Tal como no meu estômago, assim uma via-andorinha, se alongava, qual
fita emprestada, distraidamente, no ar.

No
Silêncio
De ouro da
Ponta do pargo,
Por um fio não
Desci para a
Gruta ida
De t
I
.
.
.
.
.

Cisma
Em mim um
Conceito,
Quase uma
Ordem estabelecida.
- o desejo.
Quanto
Menos o

Pratico,
Mais
se manifesta e me
surpreende por
excitante e novo.

Glicínias.

Compartilhe: