Pedro Vale
É preciso viver sem paixões. Mergulhar no absoluto anonimato, Permanecer morto ou vivo até ao fim. Aclamar o tumulto escuro e bruto. Encenar o drama clemente e lento. Sentir um amor ideal por anjos nebulosos. Descobrir um novo fundo de poesia e aguardar uma voz que nos ordene docilmente: - Não te movas, nem te inquietes, nem traias o que ainda não és.
Porto A poesia vai Pela rua, Nua. Esconde-se Nas manhãs mais Frias. E é à noite que lhe foge A voz. Lenta E lenta, Lentamente, Até Desembainhar Na F O Z
Luz(a) alma Sossega e vive do ar A cómoda alma, armário espacial. Plana e cisma a esmola pintada Na rua nua e perfumada. Sonha a universal fundação, À beira-rio, navio-fantasma e fruição. Entoa, na guitarra infantil, dramática gente, Num acorde simples, medieval. - Ó alma lusa, Acorda e sente, Mesmo que à tangente, O que é ser filha de Portugal.
O poema como Pétala de escravo marinho que enternece.
Hoje acordei com uma andorinha no estômago. A noite era de tempo limpo e sono. Sabia a quebra milenar, cabelo solto. Nenhuma angústia, lei, mato ou víscera defronte. O prédio seguia o seu curso normal de vida, espécie de abrigo impune. Gineceu. Observava sem capacidade estrelada o céu, quando a miúda astronomia me Espantou a inocência. A circular impressão se revelara. Tal como no meu estômago, assim uma via-andorinha, se alongava, qual fita emprestada, distraidamente, no ar.
No Silêncio De ouro da Ponta do pargo, Por um fio não Desci para a Gruta ida De t I . . . . .
Cisma Em mim um Conceito, Quase uma Ordem estabelecida. - o desejo. Quanto Menos o Pratico, Mais se manifesta e me surpreende por excitante e novo. Glicínias.