Lucas Medeiros
Eu sou como a chuva
Eu sou como a chuva que sobre meu teto cai, triste como a viúva cuja dor nunca se vai… No cinza céu nublado eu a mim mesmo vejo. Quando estou deitado, lacrimejo sem pejo. Eu caminho sozinho tristonho na amplidão, em meu fraco coração há apenas burburinho. Maciças massas de ar, uma fria e uma quente, chocam-se! De repente, o céu pôs-se a chorar. As trovoadas são choro de minha pobre alma lágrimas formam coro, meu rosto mostra calma. Árduo desassossego, ao qual nutro apego, já que de mim ele não sai. Eu sou a chuva que cai e o descontrolado manancial que lento flui do desalento do poeta atormentado. Eu sou como a chuva que sobre meu teto cai.
A luz se apagou
Calmo, aprecio o concerto, até que sinto um aperto. Uma corda triste se parte e faz chover escarlate. De repente, o ar se rompeu, tempo e espaço parados, o ambiente escureceu, o compasso foi quebrado. Um caixão surge exposto, no centro do palco posto, e as cordas do destino juntam-se às do violino! Seguem seu próprio desejo e nos desolam sem pensar. Aproximando-me vejo quem no caixão ali está. Seu rosto tísico jazia contrastando com a sua feição bem risonha do dia a dia – reflexo de um bom coração. Percebe-se em sua expressão palidez de um moribundo e a paz convicta de um cristão, voou para fora do mundo! Tudo se esvaziou, então ao pó da terra retornou, cinzas caíram pelo chão e a luz assim se apagou. Sei que o verei novamente, das cinzas ressuscitará junto de todos os crentes quando o último dia chegar!
Na minha rua há um menino
Na minha rua há um menino que chora a morte do pai falecido, seus berros ressoam como sino, vejo-o: ele está esmorecido. Suas lágrimas salgadas seguem a sinuosa ladeira que se forma, como trilhos metálicos de um trem, enquanto a brisa gentil o conforta. Na minha rua há um menino que lamenta a infelicidade de ter a infância, com impiedade, pisada como mato campesino. De repente, o pequenino arqueia sua cabeça e os céus encara, vejo o forte sol nordestino cessar o pranto que o fortificara. Na minha rua ainda há um menino – Ele, porém, não chora mais!
Outrora andei por aqui
Outrora andei por aqui, vi os mesmos corredores – bosques repletos de vida – que hoje corroídos estão, prateleiras mortas vazias como meu triste coração. Por esses caminhos andei com o meu pai ainda vivo. Tanto à minha mãe pedi o biscoito de goiabada que encontrávamos só ali – castelos de areia na praia. Vou pelo supermercado – Vejam todos! Liquidações! Mas onde estão as flores? Apenas fito destruição… Foram-se todas as cores, resta-nos o sombrio cinza. Tal estabelecimento assistiu ao crescimento do jovem que esses versos, em fúnebre canto, entoa – sou passarinho tristonho que por essas árvores voa. Os mistérios do mercado que nos destroem aos poucos e avançam sobre as memórias – este mundo é um moinho. Saio dali rapidamente, não aguento mais a visão. O lugar que eu conheci se foi, já não existe mais e eu choro um choro baixo em absoluto silêncio – com as lágrimas vertidas, um pedaço de mim se vai.