Pedro Henrique Ando
Retrato (do mundo)
A Cecília Meireles
A face de hoje do mundo Que é magra de pele e pálida Tem nos olhos um defunto, E nos lábios a cor parca. Suas mãos a segurar Tão paradas e frias e mortas Do coração as suas bordas; E o resto, a voar. Disperso, nem deu conta da mudança Tão clara, tão lenta, tão nada: - Em que jardim ficou deixada A flor perdida da esperança?
27 de maio de 2023
A flor
Espalho sobre mim As cinzas deste chão, Os restos de Sião Que cobrem o jardim. Com lágrimas assim Inundo o coração Da terra que da mão Perdeu o seu barim. Mas no sangrar da Flor A vida nascerá Nas cinzas como cor: Um mar que beijará A terra com Amor E nunca secará!
27 de maio de 2023
Soneto de Outono
Quando tua vida virar Outono, E teus caminhos meros galhos Que se aquecem com os frangalhos Das folhas com cor de sono, Que a luz do Sol sentada ao trono, Traga Beleza à tua fraqueza. Não olhe para a grandeza Das verdes árvores em desabono. Veja como é belo O tom sangrento de tuas flores Que revelam em suas cores A semelhança do Eterno; Que aqui bebeu das dores Para te dar a Primavera dos sabores.
10 de junho de 2023