Diego Gregório
Traição
Comecei a escrever um poema sobre amar um homem.
Era assim: amar um homem que não precisa ser salvo e o corpo banal desse homem. Amar sua história (menos aquela parte) e a voz cantada desse homem.
Por a cara desse homem dentro da minha roupa para sentir o seu cheiro e amar quando esse homem, que é igual a todos os outros, se torna mais que mera possibilidade.
Mas dobro a folha, enrolo a folha,
e na palma da mão escondo meus dedos em segredo.
Colosso
Não falo por mim.
Não sou eu quem se equilibra nesta corda fina do sem
nome, é outro que veio de longe.
Não sou aquele com a corda na garganta, ou o arame ou
choro. Ou coisa que engasgue.
O que dobra os lençóis que sobraram, sacudindo os pesa-
delos de ontem à noite, é alguém que sofre e não eu.
O que caminha à beira do abismo de outros tempos e o que
conjura distâncias é outro, eu já disse.
O olho que sangra no espelho.
O que tece a mortalha do dia.
Não sou eu o que te chama.
É o poema.
Simbiose
Depois que
a folha de um livro cortou-me os dedos fazendo jorrar san-
gue por toda a cama eu nunca mais fui o mesmo.
entramos em simbiose, em namoro eterno onde sensualmente ele deita sobre mim, ele percorre as minhas mãos em deleite e quando eu passo a língua em seu corpo côncavo
ele se abre.