Dois poemas

"Fugitivos de Nimrud cruzando o Eufrates", relevo do Palácio de Nimrud (c. 875-860 aec)
Museu Britânico

Leonardo Valverde

I.6 Andante maestoso (entre rios)

Passeei nos jardins da Europa,
margeei seus rios caudais
escutando as águas sonoras
à procura dos sons iguais,
ao andar em sentido oposto
descobri a nascente por ora
desses rios em pressuposto
- com as águas conceituais.
Percorri o Danúbio ao Mar Negro
com um mapa, seguindo a rota,
cheguei ao mar onde começamos
na odisseia quase devota
por planícies que adentramos
- em andanças percetuais.
Caminhei descendo à Anatólia,
ao chegar ao imenso platô
avistei o longo rio Eufrates,
o primeiro com nome escrito,
caminhando esse curso exposto
decidi voltar sem demora,
mas, agora, em direção notória,
andei até escutar um perito;
nas estepes onde criamos
essas músicas fluviais,
encontrei alguns manuscritos
descrevendo os rios com glória.



IV.1 De Intellectus Emendatione

Das falsas ideias, fictícias,
fantasmas no espelho, absurdo ou nada,
ideias de ideias sem vestígios,
a fala embaçada nesse espelho
- em proposição já consagrada;


especulações, sem evidências,
o espelho em poeira na parede
não absorve ou espalha a luz reflexa,
reflete o Narciso em imanência
- na própria imagem retrocede.

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A fome

“[…] manjares em pratos de vacância”, um poema inédito de Pedro Ando.

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