5 poemas de Mátria

Orazio Borgianni, "Cabeça de uma senhora" (d. 1610)
The Metropolitan Museum of Art, Nova York

Laís Romero

Livro corpo

Você sabe quem eu sou?
O que eu sou de onde venho?
De que registro e com qual sangue
como sobrevivo e me alimento
o que faço quando sinto dor
como passo as horas do dia
o que gosto de comer
se coloco café e açúcar
e que assunto me perturba
se cumpro palavras e dietas
quantas vezes eu chorei na última década
você sabe?

Estudo nº 7

Dos teus duros olhos de âmbar
escapa a minha dança
e sobram outros segredos
Duros aspectos do medo
sinto meu pulso revidar
um ritmo atravessado em garganta e
ainda em dança em dança
no âmbar dos nossos anseios

Dizem que para acordar Lilith
deus soprou a Palavra
boca a boca
e fez
escorrer a seiva
de uma pulsação eterna

Cachalotes

A baleia flutua
numa atmosfera que me mataria
Uma dança lenta
cheia de esperas
Resistências
A baleia dorme
numa atmosfera que me sufocaria
Em pé e gigantesca
coisa leve do impossível

Mátria

Meu corpo encontrou um ritmo
meu corpo abrigo
país dos meus filhos
meu corpo ferido frio
corpo dormindo
capataz dos meus delírios
corpo vasto território
corpo de corte e tintura
mapa em relevo da dor
meu corpo sereno
corpo, pelos e suor
meu corpo diz e asseguro
estar a caminho
no presente
e nos medos multiplicação

Meu corpo aberto e preciso
Coragem, eu insisto

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